domingo, 28 de fevereiro de 2010

"Father and Son..."


De Chirico's shadow cast on "Icon or the Believing Machine", a colage by Carlos Machado Acabado

"Por Menos Que Aquilo Que «Ele» Fez, Estão Muitos «Lá Dentro»..."


The shadow of the De Chirico's anguished 'surrealism of loneliness' cast on Magritte's irony in Carlos Machado Acabado's "For Less Serious Doings Have Others Before Been Institutionalized..."...

"Il Deserto dei Tartari"

sábado, 27 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

"United Colours..."


...of Berlusconi...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

"Despondency», colgem sobre papel de jornal de Carlos Mchado Acabado

"Retrato Genial de uma Europa Física e Moral Já Desaparecida: «Le Plaisir» de Max Ophuls"


Um breve e modestíssimo tributo a um filme absolutamente esplendoroso e ao seu inesquecível realizador: "Le Plaisir" de Max Opphuls.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

"Quand On Se Meurt, Les Couleurs..."

A colagem que seleccionei para encerrar o 'dia virtual' de hoje.

"All That Fall"


Imagem de "Todos Os Que Caem" ["All That Fall"] com Maria do Céu Guerra e Carlos Paulo de Beckett que traduzi, em tempos, para "A Comuna", peça sobre a qual me debruçarei com um poucos mais de detalhe, em breve, aqui ou no "Quisto".

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

"In Memorian do Zeca"

23 de Fevereiro, ZECA AFONSO...


COMO SEMPRE, NOS NOSSOS CORAÇÕES!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

"Shadow of Utopia"

"La Passion de Jeanne d' Arc"


Dreyer: o cinema-reflexão, a viagem/ascese das formas em direcção à essência mesma da [ir?] realidade.

"«West of Zanzibar» de 1928, dirigido por Tod Browning..."

... com Lon Chaney e Lionel Barrymore: o "padrinho" desta "casa virtual"...

... tributo já, talvez, um pouco tardio...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

"Cruci-fiction"


Encerro, por hoje, como gosto: com uma colagem.

A que hoje coroa um dia inteiro agarrado ao computador intitula-se "Cruci-fiction" e "fala" sobre a perda de identidade cultu[r]al e de conteúdo humano de uma "civilização" cegamente materialista e obsessivamente "funcional"...

"Vers l' Absolu..."

Mais escadas...
Das "tais".
Paris, rue André Antoine:
montant cran à cran
vers l' absolu...

"Escadas"


Paris...

Um dos encantos de Paris [que é um dos seus melhores e mais fascinantes "mistérios", também...] está nas mágicas, aparentemente insondáveis escadarias dos bairros populares, de longos e invulgarmente tácteis corrimãos de ferro polido pelo uso, em alguns casos secular, conduzindo nunca se sabe exactamente onde e que Lisboa [ou Liège, por exemplo---lembro-me, especialmente, de uma dessas imensas escadarias conduzindo a uma 'pequena Montmartre' 'liégeoise", encarrapitada numa colina íngreme, marginal e prodigiosamente silenciosa, de janelas cerradas envoltas num silêncio quase surreal] copiaram e integraram na sua própria fisionomia [e, a meu ver, na sua identidade] urbanas.

Recordo, com especial voluptuosidade, os corrimãos de metal vidrado pelo uso, quasi-esculturas que apetece percorrer com os dedos e a palma da mão com a sensualidade que usaríamos para percorrer a anca ou o dorso de um corpo humano completamente nu de muitas dessas escaradarias na sua 'versão' lisboeta, como as que do Martim Moniz [junto ao antigo "Piolho"] conduz directamente à parte alta da velha Mouraria ou uma outra, ainda mais recôndita que, pertinho já da "minha" Graça de deslumbradas e quase iniciáticas primeiras errâncias solitárias de adolescente, leva da Damasceno Monteiro ao Miradouro.

Quantas vezes, ganha coragem para me evadir da "prisão" do velho "Gil", aí esperei ansiosamente pelas 15 horas para que o não menos velho "Royal" abrisse as portas e eu aí me pudesse refugiar durante as duas horas e pico que durava a matiné, às voltas com Bogarts, Erroll Flynns, Joan Fontaines e/ou Lauren Baccalls e Cary Grants...

Para o adolescente deslumbrado que fui, as escadas conduziam directamente... ao céu desses prazeres [literalmente] proibidos, ousdadamente roubados a um liceu que lá era à época sinónimo de repressão e terrores de toda a espécie...

"Como?!"


Tudo à nossa volta nos faz pensar, com naturalíssima inquietação a cada novo dia reconfirmada na extrema---infeliz!---mutatis mutandis actualidade de cartazes e avisos como este...

Como podemos permitir que "coisas" destas seguissem naturalmente acontecendo, disfarçadas, desta vez, ora de "democracia", ora mesmo na forma insidiosamente sugestiva e aliciante de todo um modelo ou paradigma "civilizacional", dito "livre"?...

Os mecanismos de vigilância, controlo e condicionamento da opinião sofisticaram-se a um ponto gtal que parecem ser exigidos por nós em lugar de impostos pelo poder: mas serve isso para alterar a sua natureza violentamente intrusiva e brutalmente violadora?...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

"A View to Eternity"

Giotto e Miró: "deux coeurs simples qui se sont pour mon plaisir personnel, donné rendez-vous ici, à l' ouest de Zanzibar"...

"E Porque Falei de Música..."


... na 'entrada' que imediatamente se segue, lembrei-me deste "Luiz Piçarra", o "primo Luís" , como era conhecido lá em casa.

A Mãe chama-lhe, julgo, "Luís Raúl".

Recordo-me das romarias familiares para casa da minha prima Maria José que morava na Almirante Reis e era daos poucos membros da família que tinha à época televisão sempre que corria a notícia de que "o primo Luís" ia cantar lá.

Eu ouvia-o literalmente extasiado [os pianos do "primo Luís" eram absolutamente sublimes e ensinaram-me, sobretudo eles, duas coisas: a adorar canto lírico---um gosto que um outro familiar, outro Piçarra, tio, que morava no nosso prédio na Rua Palmira, ouvia ópera muito alto de um modo que se ouvia pela casa toda e tinha um gato chamado "Rigoletto" já me tinha comunicado mas que a voz do Luís transformou em algo deginitivo---e a ser do Benfica.

O meu primo Luís era do Benfica... "como quem vai à igreja".

Não creio que fosse fanático---nem na altura era, aliás, necessário: o Benfica ganhava tudo, para quê a gente preocupar-se?...

Ia-se ao futebol e apreciavam-se [saboreavam-se!] as vitórias.

Mas tinha-o por coisa natural, "a fact of life".

Cantava divinalmente aquela "coisa" seminal do "Ser Benfiquista" que, ainda hoje, me arrepia sempre que o oiço---eu próprio, como o meu tio José da Costa à ópera [que também oiço desse modo, de resto]---com o som muito perto do máximo a fim de ser possível captar todas as subtilezas e matizes de uma voz [e de um conjunto de emoções] verdadeiramente empolgantes e, a seu modo, únicos.

Da última vez que o vi, estava já indelevelmente marcado pela doença, a sua voz mal se ouvia e ia ser despejado de uma casa, curiosamente na Almirante Reis.

Era um homem vencido e conformado que esperava já, claramente, muito pouco da vida.

No modo simultaneamente cansado e resignado como falava parecia-se muito com o pai, o meu Tio Luís de quando me lembro dele, corpulento, bonacheirão, pachorrento---um homem para quem, aparentemente [não sei como o conseguia!] não havia verdadeiras desgraças.

Um homem que sempre me pareceu a imagem definitiva do "homem bom": um pouco pícaro e, para alguns espíritos mais graves e mais "respeitáveis", excessivamente despreocupado com alguns aspectos mais materiais e mais comezinhos da vida mas com todas as características básicas para ser uma espécie de "avôzinho da Heidi" para as crianças como eu...

Recordo-me do diza em que lá a casa chegou a notícia: "Morreu o Tio Luís!" e não quiseram dizer imediatamente à minha avó que era irmã dele.

Recordo-me tão bem como desse outro em que a minha casa chegou a de que "Morreu o Luís Piçarra!" e nós fomos ao enterro, um enterro envergonhado e quase anónimo onde o corpo que foi a enterrar envolto numa enorme bandeira do Benfica que ele guardava religiosamente para o efeito, já não era há muito o corpo do homem alto, elegante, admirado e incrivelmente popular que fumava De Rezske importado especialmente para Moura, para ele e que cantava divinalmente, como ninguém, um Alentejo mau, ingrato e injusto que, há muito já, o havia completamente esquecido.

"Proposta"


Extremamente interessante [Não! "Interessante" é dizer pouco! "Estimulante"! Intelectualmente estimulante"] o modo como Pedro Boléo, o crítico musical do "Público" [Mau ou bom, definitivamente o único jornal que se publica hoje, em Portugal!...] aborda a "Missa Solene em Ré Maior, Op. 123" de Beethoven, tocada recentemente no Grande Auditório da Gulbenkian sob a direcção do maestro John Nelson.

Aproximando-se criticamente dela tal como foi executada na circunstância de um modo que a aproxima em tudo da maneira como Godard faz cinema---e revolução através dele: iniciando a revolução política [radicando-a!] ousadamente na própria revolução das formas ou no modo específico de a Arte se relacionar com a realidade.

Uma Arte---e uma consciência!---que não têm a coragem de questionar-se a si mesmas podem questionar?

Quem não se revoluciona, pode alguma vez, revolucionar?

Beethoven, Godard [ou Straub] e John Nelson acreditam que não: que tal escutar, pelo menos, humilde e atentamente---com a atenção e a humildade que merecem---o que cada um deles diz?...


[Na imagem: Beethoven por Steve Kaufmann]

"«Viso» ou «a Realidade Não É Estável e Observa-se Muitas Vezes a Si Mesma Com Olhar Crítico»"


"Todas as Revoluções...""



... Têm Algo de Azul...", colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

"Um Filme de Culto Pessoal [1]... "-

..."Film" de Beckett com Buster Keaton ["Shooting Naughtopy" or "Making film out of Void and pure Nothingness"...]

"Um Filme de Culto Pessoal [2]..."

..."Un Chien Andalou" da dupla Dali/Buñuel: "Dada au Cinéma"...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"A Crise Presente do Capitalismo e a Questão da Propriedade" [Inc. não-revisto]


Na SIC, ouvi hoje Medina Carreira [acompanhado do antigo ministro de Sócrates, Campos e Cunha, um indivíduo pelo qual, devo dizer, não nutro particular simpatia, pessoal ou política] proporem medidas de contenção orçamental do tipo redução proporcional dos benefícios sociais garantidos pelo Estado aos cidadãos.

Diz M. Carreira que a não ser assim, a falência do Estado é iminente.

Ora, eu até sou capaz de aceitar que uma regressão de ordem social e política desse tipo [regressão # progressão, avanço ou mesmo revolução...] seja, hoje-por-hoje, por demonstrável "má cabeça" de sucessivos governos, imperativa e mesmo urgente.

Admito-o ou melhor: admiti-lo-ia se se tratasse de uma medida inserida num projecto global consistente, honestamente negociado---"contratado"---com o conjunto da sociedade portuguesa, com base em números honestamente apresentados e um plano de objectivos precisos adequada e consensualmente traçado e, depois, levado à prática.

Um projecto onde, de uma forma muito clara e perfeitamente assumida [e aqui é que bate o ponto: o ponto bate sempre aqui!] a propriedade constasse como uma das três variáveis orgânicas inseridas na negociação.

Não apenas a despesa e a receita: a propriedade também.

Por que carga d' água [perdoe-se-me a vulgaridade da expressão!] há-de um projecto de suposta recuperação orçamental assentar exclusivamente naquelas que são variáveis cujo ónus directo recai sempre sobre as mesmas classes?

Podemos até admitir com alguma direita mais ou menos 'utópica' e voluntarista que "o proletariado acabou" e que hoje "é tudo burguesia"; o que não podemos negar é que há diferenças substantivas na distribuição da propriedade e que o trabalho e/ou os benefícios de natureza social a ele associáveis [pensões, subsídio de desemprego, etc.] são, por definição, a única fonte de rendimento de quem não dispõe da 'propriedade da propriedade'.

Esta, em princípio não responde pela negativa [não é, pelo menos, a primeira a fazê-lo] às crises.

Claro que o dono da casa para alugar pode, numa crise, ver reduzidos os lucros desse aluguer se o mercado o impuser ou até ver-se de todo, circunstancialmente, privado dele se o seu inquilino ou inquilinos cairem no desemprego de deixatrem de poder pagar a respectiva renda.

Mas o andar permanece lá, isto é, não , como disse, não responde de imediato negativamente à crise ainda que parte da propriedade que ele é ou configura [o lucro que gera] possa ser por ela secundariamente afectado.

Ora, aquilo que eu defendo é que os teóricos da economia a quem compete conceber os planos de reequilíbrio ou saneamento orçamental passem a considerar em todos os casos a propriedade naquela dupla configuração de propriedade em si + lucro para efeitos do seu trabalho específico.

Tomemos o já citado caso das rendas de casa, por exemplo: uma casa alugada está objectivamente paga ao fim de xis anos.

A partir daí começa a gerar lucro que é parte teórica ou abstracta da propriedade em si, da propriedade material que custou dinheiro.

De uma perspectiva social, sobretudo de crise, quando as classes não-possidentes contribuem para resolvê-la com a sua parte na receita [aceitando v.g. baixar salários ou pensões] e a sua parte na despesa [aceitando ver reduzido outro tipo de prestação social] não se percebe por que razão as rendas de casa devem subir multiplicando continuamente a própria propriedade-base de que são parte enquanto os que não dispõem dela vêem descer o que no seu caso lhe corresponde que são os benefícios sociais, a única forma de propriedade de que dispõem.

Na realidade, as rendas de casa deviam sempre ir descendo em vez de subir o que poderia ser realizado através do aumento progressivo da carga fiscal a aplicar às casas de aluguer, contribuindo, desse modo, a propriedade para o aumento da receita pública.

Muita gente teme o socialismo [não falo do embuste ideológico e institucional que leva o seu nome e está presentemente no poder em Portugal: falo das formas genuinas e sérias de socialismo] porque tenm receio de que ele lhes tire as casas ou até o carro.

Ora, o verdadeiro socialismo não tira nem a casa nem o carro seja a quem for.

Não os tira, seguramente, a quem tem casas e carros em quantidades que não constituam escândalo ou falta de decoro social.

Mas pode e deve prestar-se a reequilibrar o rendinmento dos cidadãos actuando sobre a "coroa imaterial" da propriedade---no caso do nosso exemplo, introduzindo factores de correcção desejavelmente repositores de algum equilíbrio global, indexando, de algum modo, os sacrifícios das classes não-possidentes aos das classes possidentes.

A Esquerda e o pensamento de Esquerda são isto---operam deste modo---ao invés da verdadeira fantochada que é ou que são as "Solução" da direita, seja ela a direita pura-e-dura de "pê-ésse-dês" e "cê-dê-ésses" seja a direita "neo-liberal social", instalada no poder.

"Lisboa Desaparecida"


A propósito de "Passagem por Lisboa" de Eduardo Geada [que analiso brevemente na entrada imediatamente a seguir] treproduzo aqui, da capa de um dos volumes da "Lisboa Desaparecida" de Marina Tavares Dias uma imagem que julgo ser da velha Praça da Figueira com o aspecto que teria, provavelmente, na época em que o filme se passa.

"«Passagem por Lisboa», filme de Eduardo Geada"


Passou recentemente, no ciclo mensal que a RTP Memória está a dedicar ao cinema português.

Confesso que não o conhecia e que o vi, sobretudo, com alguma ternura e uma enorme vontade de apreciar e, no fim, "dizer bem".

De bem, digo que é, acima dfe tudo, um filme esforçado, simpático e carregando em si uma indisfarçável [e deliberadamente indisfarçada] paixão pelo Cinema.

A verdade, porém, é que ou por escassez material de meios para reconstituições específicas, ou por falta de ambição e coragem por parte do realizador-narrador para assumir integralmente a não-cinematicidade forçada do filme e, como fez, por exemplo, João Botelho em "Conversa Acabada", reinvesti-la numa opção estética e narrativa em si, autónoma ou, ainda, porque [a mais penalizadora das alternativas que, a mim pessoalmente, me ocorrem] porque a Eduardo Geada faltasse a inspiração de um Fellini para reinventar por completo essa magnífica personagem central do filme que é [ou podia ter sido] Lisboa---a Lisboa, a um tempo, sombria ["proibida", inconfessável ou, pelo menos, dificilmente confessável] secreta e fascinante dos anos de chumbo do nazi-fascismo e da II Guerra Mundial com as suas misérias, as suas vergonhosas cumplicidades mas também algum do encanto que, com a distância, pode ter ganho sobre tudo isso---fosse por que fosse, a verdade, dizia, é que o filme acaba por ser uma espécie de tele-filme falado em português [sobriamente representado por actores portugueses mas, sobretudo, pelos ingleses que lá figuram e que lhe conferem um indisfarçável, discreto e remoto mas muito consistente e eficaz toque de romance de Graham Greene].

Denuncia-o, desde logo, por exemplo, a saturação de "contre-plongés" francamente incómodos e francamente limitadores da fluência [ou, se assim se preferir dizer] da independência, da autonomia, do discurso narrativo.

Também aqui terá havido [houve, em meu entender, uma espécie de desaproveitamento inglório da possibilidade de reinvestir uma certa inevitável "obliquicidade" material, espacial, originalmente forçada, numa linguagem em si; num neo-expressionismo cuidadosamente repensado que soubesse tirar partido desse sentido, dessa geometria física do texto cinematográfico para induzir estilisticamente a sugestão de quanto o período [e o lugar] tiveram de tortuoso, labiríntico [indecifrável] inquietante e sombrio.

Em vez disso, optou-se pelo óbvio [os esgares, o secretismo de opereta ou de episódio do Poirot "à David Suchet", a anedota, o pitoresco "à major Alvega"...]

Fica, repito, o esforço e o projecto meritório de homenagear figuras referenciais como Pola Negri [cuja efígie verdadeira reproduzo acima] ou Leslie Howard [aqui, porém, a escolha do actor revelou-se particularmente desastrada: é, por exemplo, difícil imaginar mais clamorosa dissemelhança física entre o Tom Hardy e o verdadeiro Howard] e/ou, mau grado quanto disse, a cidade de Lisboa e um certo momento particularmente pouco claro da sua História recente.

"Lisboa Antiga, Colinas, Tristeza e Tudo"


[Colagem sobre fotografia impressa, de Carlos Machado Acabado]]

"Aleluia!! Deus [Afinal] É [Mesmo!] Grande!!"


A Rita Pereira foi detida!

Parece, pelos menos por esse lado e para já, afastada a assustadora ameaça de novas "novelas" da TVI!

Ao contrário, com efeito, do que se supunha, o Senhor, afinal, estava atento e enviou um anjo que, apanhando-a ensonada e meio a dormir [o seu estado normal] a surpreendeu, amarrando-a solidamente à cama do modo que a gravura documenta e recusa-se, agora, firmemente, a deixá-la sair para voltar a infernizar-nos os serões com personagens horríveis de imbecis acabadas de lobotomizar, obscenas de néscias, burras e cretinas [para já não falar em indecorosas de primárias e mal-feitas...] alegando instruções expressas e rigorosas do Mestre!

O País pode [pelo menos para já, repito!] respirar de novo!

O Cinema [e a Inteligência Animal, em geral] agradecem, comovidos!

Agora faltam só aquela improvável ministra, dita da cultura, de José Sócrates, Manuel Luís Goucha, o indescritível Lello [o Goucha da política] e o próprio Sócrates!

[Mas ainda não é tarde e eu, por exemplo, até nem sou dos perdem a esperança logo às primeiras!...]

A verdade é que, a partir de agora, tudo parece possível---até o País sair, de um momento para o outro, ao fim destes anos todos, espontaneamente do coma!...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

"«D. João ou O Convidado de Pedra»" [colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]


"Un Saludo Especial!"


"Buenos días, señor Borges, autor multiplo y kaleidoscopico, guionista-trueno de la perfecta y feliz incertitumbre!

Me gustan mucho sus pecados contra todas las infamias... empezando por la infamia maxima, la absolutamente imperdonable infamia de no ser ilimitado!"

Carlos Machado Acabado

[Imagem "Casa das Letras", divulgada no 'Facebook'---que para alguma coisa há-de servir, não?...]

"Democracia Autêntica e Democracia Funcional: Algumas Reflexões Pessoais a Partir de um artigo de Miguel Gaspar no «Público» de 16 de Fevereiro"


Há um artigo muito interessante de Miguel Gaspar no "Público" de 16.02.10 intitulado "antes e depois de José Sócrates" sobre o qual me parece útil tecer, desde já, algumas considerações .

O artigo é, como o próprio nome indica, sobre José Sócrates mas Sócrates é, no fundo, nele aquilo que menos interessa.

A mim, pelo menos, para quem José Sócrates muito pouco [e dizer "muito pouco" é já dizer francamente muito...] significa e o que significa é mau e deve, por isso, ser, o mais rapidamente possível, extirpado, nada mais.

Com ou sem "sinais preocupantes para os mercados", algo que ainda não há muito deixava Sarsfield Cabral, neste mesmo "Público" visivelmente inquieto e perturbado...

Não! O que me interessa no artigo de M. Gaspar é algo que tem vindo a marcar, pela negativa, de forma muito perversa mas consistente, aliás, a nossa percepção global da realidade---a começar pela política.

Verbera Miguel Gaspar no seu artigo do dia 19, com efeito, o modo como o entendimento que Sócrates tem do poder que, segundo ele, conduziu a um verdadeiro apodrecimento de uma suposta democracia, em última análise, mais ou autónoma e ideal, pura talvez, arquetípica, com cerreza, "neo-platónica" na sua relação descencional com a História, com os factos, com a realidade em geral---democracia referencial essa onde uma série, realmente preocupante de medíocres... "eticamente desinibidos e despachados" [para, relativamente a alguns deles não dizer outra coisa pior] teriam vindo a deixar a marca indelével da sua inépcia e da sua "desinibição moral" pessoais.

Ora, se Sócrates é politicamente inquietante e Santana Lopes, por exemplo "felizmente nunca existiu"; se Guerres foi um equívoco politicamente dispendioso e Barroso tão mau que só premiando-o o País conseguiu ver-se livre dele, a verdade é que aquela democracia ideal e, sobretudo autónoma de que Miguel Gaspar parte para a sua compreensivelmente inquieta análise do "sucatismo/socratismo" político ainda em vigência entre nós, tal como o tal Lopes de que atrás falo embora num sentido diferente, ela própria, nunca existiu.

A "democracia" moderna é, na sua in/essência [há que olhar a realidade e especificamente a História de frente, sem medo das palavras ou das ideias que elas devem sempre, em todos os casos, veicular] uma hábil e, sob diversos aspectos, eficaz "invenção" do grande capital financeiro [industrial e, depois, pós-industrial], herdeiro universal da burguesia saída em triunfo do segundo estádio das Revolução Francesa que foi a Industrial inglesa.

Se quisermos perceber a História que hoje somos levados ou nos fazem viver há que começar inevitável, incontornavelmente por aqui.

Não há outra hipótese.

O sonho dessa grande burguesia financeira que se foi por formando por... "decantação" contínua do magma social, sociológico [e político, claro] que derrubou mais ou menos simbolicamente a aristocracia em '89, em França; o sonho, dizia, dessa nova classe que se foi gradualmente formando a partir de movimentos... "tectónicos" sucessivos ocorridos no interior da massa social e sociológica referida; o sonho de um "capitalismo total" ["totaler Kapitalismus", um termo inexistente mas uma ideia bem presente ao longo de vários anos, um termo por mim decalcado de "totaler Krieg", um título---e uma ideia---de von Ludendorff], um "capitalismo" que "fosse da economia à [respectiva] política"; que fosse daessa mesma economia àquilo a que chamo o respectivo "revestimento politiforme" instrumental; o sonho em questão veio a dar como resultado a tragédia de 39-45 e a necessidade de operar drásticas alterações de natureza táctica e estratégica nesse âmbito "politicamente possibilitador"---nessa "coroa instrumental" funcionalmente "política" que foram os autoritarismos dos anos '20 e '30 cuja impraticabilidade final a guerra ou as guerras [foram duas, como se sabe] e as revoluções sociais e políticas a que elas conduziram [na Rússia mas, de igual modo, em França e na Alemanha, por exemplo] veio tragicamente demonstrar.

1945 é, com efeito, um "vértice" claro da nossa História ocidental.

O capitalismo percebe que levado "numa peça única" da economia à política sem interrupção gera uma inevitável falácia de composição que leva a prazo à impraticabilidade material de todo o 'modelo', no seu conjunto.

O grande capital económico-financeiro alemão a quem Hitler deve o ter sido chanceler e a quem o mundo deve, na realidade, a tragédia da II Guera mundial [o grande capital financeiro alemão relativamente ao qual por exemplo, Simon Wiesenthal em "Os Assassinos Entre Nós" recorda o modo cínicamente impiedoso, maquiavélico, como "tirou o tapete" a Hitler quando este perdeu a utilidade por ter perdido a capacidade para possibilitá-lo ulteriormente]; esse grande capital financeiro alemão, dizia, viu-se, a dado passo, forçado [ele que, repito, depois de ter purgado o N.S.D.A.P. da componente "callejera", tipo Röhm e S.A., demasiado pouco "respeitável" mas que tão útil fora no combate à esquerda, tinha "cooptado" Hitler e os nazis como "parede política" sólida---esgotada a utilidade temporária anterior de Bernstein e da sua sempre "disponível para conversar" "social-democracia"---]; o próprio grande capital financeiro alemão, dizia, viu-se forçado a "democratizar-se funcionalmente para sobreviver".

Fá-lo---toma a iniciativa, insisto, ele próprio, muito... "lampedusianamente" de fazê-lo---porque percebe e quando percebe que a melhor maneira de conseguir fazer triunfar uma ideia [como um projecto inteiro de História] é levar aqueles a quem essa ideia ou esse projecto se quer impor a persuadirem-se de que... a ideia é sua.

É por isso que eu digo que a "democracia institucional" moderna---o seu paradigma teorético e o seu uso prático consistente---são "uma grande invenção" da economia.

A "democracia institucional" moderna nasce como, de facto e até de direito, um capítulo específico, próprio, da economia---nasce para ser um capítulo da economia--- e só, no fundo "por acidente" está na Política assim como só por grave erro ou "paralaxe metodológico e analítico" erro pode ser aceite pelos historiadores e pelos analistas em geral como estando lá incluído.

Nasce da economia.

Nasce para servi-la onde outros modelos falharam e porque esses outros modelos falharam.

Não nasce como a sua antepassada remota grega teórica como coisa-em-si, como modelo de organizacionalidade política concebido para responder perante a Política---que é como quem diz perante a Cidadania.

Não nasce como expressão de desejo organizacional de uma qualquer elite teórica civil independente.

Nasce como uma estratégia auto-possibilitacional concebida pela base, pela infra-estrutura económica do sistema para protegê-lo de "suspresas" de natureza reaccional, social e política.

Quem não perceber tudo isto; quem tiver ilusões relativamente à própria génese das formas ditas "modernas" [do pós-guerra] de "democracia, não percebeu nada dessa mesma guerra e não percebe, num plano mais lato, o que quer que seja de História, a verdade é esta.

Quando Miguel Gaspar diz, no seu texto do dia 16 que, com Sócrates---pobre paródia mal-amanhada de ideólogo e renovador teórico do capitalismo político neo- ou pós-moderno!--- "o poder controla os negócios mas não pode ser ocupado sem o ámen dos negócios"] julgando talvez estar a falar de uma realidade nova ou relativamente nova, exclusiva de Sócrates e do grande capital económico-financeiro nacional que ele representa aquilo que está, na realidade a fazer, é o retrato fiel de "uma certa História" que já aconteceu há oitenta ou noventa anos atrás, pelo menos.

É por isso que eu comecei por falar de disfunções possíveis na nossa percepção específica da realidade, a propósito de posicionamentos analíticos que partam da ideia utópica ou mesmo, "all things considerded", distópica, infundadamente idealista da "democracia", concebida como algo, no fundo, anterior à História e exterior a ela.

O problema começa [ou tem, pelo menos, expressão necessária] no rigor terminológico.

Em bom rigor, sempre o disse, nós não vivemos há muito [se é que alguma vez vivemos] em "democracia", no "Ocidente": vivemos em "democracia funcional", que é uma coisa não apenas substancial mas, sobretudo, substantivamente diferente.

É que nós, vivendo em "democracia funcional" [e sendo nós mesmos "cidadãos funcionais" dela: estude-se um só momento que seja e mesmo muito pouco atentamente a legislação portuguesa actual, no domínio do trabalho, por exemplo] nunca saímos da economia quando imaginamos agir [ou pensar] politicamente.

Não há outro modo de dizer: a "democracia" de hoje, tal como a conhecemos é, desde a sua base, pela sua génese particular ["Sócrates or no Sócrates": Sócrates é um mero incidente sem grandeza e, volto a dizer: no fundo, sem qualquer interesse especial em tudo 'isto'] uma mera ilusão de óptica e, por isso, o é tantas vezes também uma outra... "de ética".

[Imagem "gentilmente cedida" por yuzuru.wordpress.com]

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

"Manuel Santos Carvalho"


Volto a falar dele mais adiante.

Fez, com Barroso Lopes, por exemplo, parte de uma espécie de "banco de suplentes" de luxo, muito consistente e fiável, da geração de ouro da comédia "à portuguesa".

Era aquilo a que em relação ao cinema americano se chama um, aliás, seguríssimo "supporting actor".

O seu 'Manuel da Loja' de "João Ratão" de Brum do Canto, por exemplo, é bem o burguês enriquecido mas sempre persistentemente saturnino, burgesso, lerdo, um pouco [de facto, um muito!] grosseiro, nos hábitos, no gosto, no comportamento, frequentemente pomposo e ocasionalmente acaciano, tornado "fino" à pressa por acção do dinheiro acumulado e arrecadado em algum comércio de bairro ou loja de secos e molhados; figura recorrente na Lisboa do século XIX de onde salta intacto para as comédias de um André Brun ou de um Félix Bermudes, à semelhança do que sucede com o seu equivalente francês e as comédias de um Courterline ou de um Labiche; um homem invariavelmente, em maior ou menor escala, rústico e primário que se imagina, porém, com direito a ligar-se a uma nobreza, à época genericamente decadente e praticamente irrelevante e a herdar mesmo, em muitos casos, o papel de liderança histórica e cultu(r)al por aquela anteriormente detido.
Homens como Brun ou Gervásio Lobato ridicularizaram amplamente o tipo e outros, como este Santos Carvalho [na imagem, num papel "sério" em "Capas Negras"] forneceram-lhe algumas vezes o rosto enfático e pomposo assim como o corpo rotundo e solene.

O cómico de Santos Carvalho era sóbrio e discreto, vivendo como bom "supporting character" à sombra dos grandes mitos da época, como os "gregários" do ciclismo e as "lebres" das corridas pedestres, preparando o "sprint" vitorioso das vedetas ou ajudando as estrelas do fundo a conquistarem as medalhas que a eles invariavelmente, por definição e estatuto, escapam.

A verdade, porém, é que sem eles não haveria seguramente tantas vitórias---e, em última instância, as próprias estrelas não seriam obviamente o que com eles dispoem das condições ideais para serem.

"Tótó"


Oriundo de uma região pobre e comparativamente subdesenvolvida de Itália, Nápoles, Tótó, o Principe Antonio Focas Flavio Angelo Ducas Comneno De Curtis Di Bisanzio Gaglardi consagrou um paradigma de comicidade "débrouillarde" e pícara, muito característica, onde a matriz sócio-económica, profundamente deprimida, actua como o próprio fundamento objectivo, histórico, social e político, da comicidade.

É nela, nessa matriz histórica precisa, que a comédia ancora: é por ela que o cinema se une ao real, mesmo quando o não põe [ou parece não pôr] imediata e directamente em causa e em questão.

A fome, a miséria, a necessidade permanente---e ingente---de "arranggiarsi" ["Arranggiatevi!"/"Desenrasquem-se!" é o título de um dos seus inúmeros filmes, à época, aliás, muito populares também entre nós] está invariavelmente presente nos filmes por ele protagonizados e encontra alguma evidente analogia [a começar pela que existe entre o tipo de condicionantes económicas, sociais e mesmo políticas gerais, entre a realidade económica, social e política italiana do sul e a portuguesa dos anos '20, '30 e '40] com algum cinema português---a famosa "comédia" dita "à portuguesa" onde António Silva, por exemplo, surge como uma das grandes referências e possível ou potencial émulo local.

Relativamente menorizado à época, Tótó seria "recuperado", por assim dizer, por grandes e consagrados cineastas como Rossellini ou Pasolini mas, em meu entender, pelo menos, onde ele atinge as culminâncias do seu 'boneco' e dele tira todo o partido quer de técnica, quer de crítica social implícita ou mesmo expressa é com Moniccelli que o entende às mil maravilhas sem o intelectualizar demasiado, por exemplo, em "Guardia e Ladro", uma comédia fabulosa e fabulosamente crítica [como digo noutro lugar: perfeitamente à altura, em registo de comédia, do que de melhor e de mais definitivo fez, noutro registo mais "a sério", no neo-realismo italiano de Rossellini a Visconti, do 'primeiro Fellini' ao igualmente 'primeiro De Sica', o de "Ladri di Bicicletti" ou "Umberto D"] ou, anos mais tarde, noutro momento absolutamente sublime de Comédia, em "I Soliti Ignoti", uma "paródia crítica" ao "Rififi" de Jules Dassin, baseado num "polar" de Auguste Le Breton, uma hoje clássica "epopeia do fracasso", em cuja [sub...] versão italiana faz um magistral 'Dante Cruciani', "professor de gatunos, retirado" absolutamente irresistível.

Na imagem acima republicada, Tótó surge ao lado de Eduardo Di Filippo cujas semelhanças fisionómicas [para além de um certo tipo de comicidade contida e não-imediatamente aparente comum a ambos] com o actor português Manuel Santos Carvalho são, de facto, notáveis.

"João Ratão"


Já aqui [ou, talvez tivesse sido no 'irmão' mais velho deste "Oeste", o meu primogénito "Quisto"] falei dele: de Jorge Brum do Canto, o realizador deste "João Ratão", de 1940.

Julgo recordar-me de, na altura, me ter referido a Brum do Canto para repetir o que já antes de mim tinha sido amplamente repetido, isto é, que foi um realizador que nunca cumpriu realmente o que um início muito auspicioso de carreira [primeiro filme 'de fundo': "A Canção da Terra", de '38] havia prometido.

"João Ratão" ["ratão=soldado do Corpo Expedicionário Português mobilizado para França e para a Flandres no âmbito da I Grande Guerra e "ratão"= "maroto", "ladino"] recentemente reexibido na RTP Memória é, ainda, no contexto da carreira do cineasta, um filme interessante [plasticamente, Brum do Canto era, de facto, um cineasta cultíssimo, tecnicamente competente e globalmente muito consistente]; original [o tema da I Guerra Mundial---para o qual foi, aliás, necessário construir cenários próprios, nos estúdios da Tobis, em Lisboa o que diz bem do comparativo "essor" do Cinema português na época, mau grado o ano cinematográfico não ter sido famoso: três filmes, apenas, no conjunto] nunca havia, que eu saiba, sido tratado num filme de fundo português e não conheço momento ou circunstância alguns da cinematografia nacional em que voltasse a sê-lo] e comportando excelentes momentos---de comédia, sobretudo.

'Sobretudo' embora, muito astuciosamente, Brum do Canto tenha tido a preocupação de compor, no filme, um mosaico de registos que vão do dramático [abertamente "folhestinesco", herdado directamente da matriz teatral do filme, embora Brum do Canto tenha conseguido disfarçá-la, por via de regra, muito habilmente] mas, é, de facto, no que tem de 'comédia' que o filme sobrevive, em larga medida devido à intervenção de um grande [e injustamente menorizado] comediante português, Manuel dos Santos Carvalho, que aqui, juntamente com um António Silva um pouco menos fulgurante do que o habitual, dá um contributo absolutamente irresistível para a composição de um duo de "sidekicks" ou "comedy reliefs" realmente notável.

Tenho para mim que é, de resto, aqui no cómico burlesco ou para-burlesco; na re/ construção [uma e outra vez tentada, muitas vezes, aliás, com invulgar sucesso!] de um tipo de portuguesinho aldrabão, pouco culto mas sempre 'débrouilard', cheio de 'lata' e bom humor, simultaneamente conformado e inconformado com a pobreza e a mediania em que invariavelmente vive [quando começa por não se conformar, a vida---e o cinema, os argumentistas e os realizadores deste...---acaba[m] invariavelmente por ensiná-lo a pôr-se "no seu lugar"]; tenho para mim, dizia, que é aqui, neste elemento de comédia [a que António Silva, Vasco Santana, Ribeirinho, Barroso Lopes, Santos Carvalho, sobretudo, deram um contributo verdadeiramente fundamental e determinante] que reside uma das grandes originalidades, pelo menos, ' relativas' e um dos grandes méritos [que efectivamente o são!] do justísssimo sucesso da comédia dita "portuguesa" ou "à portuguesa" dos anos '30 e '40.

A falta de uma verdadeira e sólida indústria cinematográfica a funcionar em permanência, criando hábitos de trabalho e mecanismos sólidos a todos os níveis terá contribuído para roubar ao cinema nacional as condições de estabilidade e de continuidade que propiciassem o nascimento, entre nós, de um Totó, por exemplo e, ao mesmo tempo, o de um Moniccelli e de um Steno [não o Steno realizador, que era medíocre, mas o Steno colaborador de Moniccelli] capazes de conferir a 'bonecos' que tanto de comum têm entre si, a dimensão social que aquele trio [Totó/Moniccelli/Steno lhe conferiram e que fica perfeitamente evidenciado em títulos absolutamente referenciais como "Guardia e Ladro" ou posteriormente, por exemplo "I Soliti Ignoti" onde se configura uma comédia neo-realista perfeitamente ao nível dos grandfes títulos rossellinianos ou viscontianos deste período].

Aqui, em "João Ratão", o 'boneco' fica, como disse, sobretudo, a cargo de um impagável Santos Carvalho [que, às vezes, faz lembrar, por exemplo, certas "coisas" de um Eduardo Di Filipo, com quem, aliás, se parece fisicamente ou até de um Aldo Fabrizzi pelo registo "composto" e caracteristicamente contido, hilariante sem deixar de ser sóbrio e 'jogar' muito no contraste, na contradição e na inteligência quer do actor, quer do público] actuando em parelha com um António Silva incomparavelmente mais exuberante e caracteristicamente mais expansivo e truculento.

A parelha [outra das qualidades do filme] funciona muito bem numa espécie de eco discreto de grandes referências mundiais do cómico 'polar' e assimétrico tipo Laurel/Hardy, Abbott and Costello ou Jerry Lewis/Dean Martin, entre tantas outras, anteriores, contemporâneas e posteriores] e fornece, como disse, o contraponto cómico [o citado "comedy relief"] à muito folhetinesca e [como "convém" ao bom "feuilleton"] previsível "historieta" amorosa onde, por uma vez, o principal interveniente está [quase mas não completamente...] inocente [e não tem, por isso, toda a responsabilidade] das peripécias em que se vê envolvido.

O 'João Ratão' do filme é uma espécie de "apanhado", de súmula ou de síntese ficcional do português simples e generosamente heróico dos livros escolares [e, numa perspectiva mais ampla, de um certo mitário heróico permamente e omnipresente no "cultuário" do salazarismo] habilmente cruzado com o gabarola inocente e atrevido q.b., algo pícaro mas, no fundo, respeitador dos valores estabelecidos, fiel e fiável, sempre generoso, que, para aquele mesmo salazarismo acaba de compor a figura do 'português médio', do homem do povo, do "monsieur Tout-le-Monde à portuguesa"; do "portuguesinho" muito latinamente indisplinado, acriançado mesmo, não-raro---o 'regime' adora ser 'paternal' com todos, da "metrópole" às "colónias", sobretudo nestas; o 'portuguesinho' que é, visto 'de cima', uma personagem sempre tendencialmente "desalinhada" mas que o 'regime' faz absoluta questão de "meter continuamente na linha", nos seus filmes, nos seus livros, nas suas escolas, etc. a fim de servir de exemplo e lição a todos os outros portugueses...]

Aqui é a Óscar de Lemos [que já tínhamos visto a fazer, curiosamente ele, de "side-kick" dos amores entre o 'Rodrigues' e a 'Bastiana' na "Canção..." ] sempre faceto, jovial e folgazão mas, também, sempre simpático que compete defender a personagem do herói onde curiosamente reverberam ecos sémicos que vinham já da "Canção..."

Nesta e desta, com efeito, a "lição" dada por um cineasta que tinha origens aristocráticas, que foi procurador à Câmara Corporativa salazarista e que faria, três anos mais tarde, em '43, por exemplo, uma melodramática [e muito sintomática] "Fátima, Terra de Fé", era a que se reportava ao motivo bíblico envolvendo o imperativo de ter fé e mesmo de "crer sem esperar provas" como paradigma ideal de crença.

Ora, que se pode dizer do "ratão" português, despachado à pressa, impreparado, para um Somme ou para um Verdun qualquer onde vai, em muitos casos, morrer sem saber exactamente por quê ou até mesmo rigorosamente onde, apanhado completamente desprevenido num jogo político onde a suposta defesa estratégica de umas distantíssimas e, para ele sobretudo, remotíssimas [em larga medida abandonadas, aliás, inteiramente à sua sorte] colónias e a afirmação geopolítica de uma jovem república acabada de implantar e que ainda mal 'se tem nas pernas' o convertem em simples peão que apenas à cega fé de estar a "defender a pátria" pode recorrer para se motivar; que, pois, se pode dizer deste "ratão", tendo tudo oisto presente senão que confere, afinal, expressão material a esse anti-S. Tomé dócil e crédulo com que igreja e regime sonham e sobre o qual este mesmo 'regime' assentou grande parte da sua política, quer interna, quer externa e a igreja oficial, aliada natural dele, o essencial da sua própria política de crescimento e consolidação institucional?

O filme, à semelhança das melhores comédias do período [que não são, de resto, assim tantas como tudo isso: o modelo de que partem---o equívoco desenvolvendo-se 'em espiral', herdado do 'teatro de boulevard' francês de que um Félix Bermudes, co-autor da opereta original ou, por outro exemplo André Brun, criador do libreto de "A Vizinha do Lado" de Lopes Ribeiro---é finito e esgota-se rapidamente] diverte sem ofender excessivamente a inteligência [está longe do primarismo retórico de uma "Revolução de Maio" de Lopes Ribeiro, piedosamente "esquecível"] mas também sem deixar de dar a perceber, "imedistamente por baixo" da anedota [da "chetória", como costumo dizer] as grandes constantes da 'cultura social e política' típica do 'regime': o respeitinho implícito pelas instituições e pelo seu carácter básica e desejavelmente imutável; o rígido aparelho social e sociológico da época; a severa hierarquia---a intocável separação---das classes; os tabus, todo o quadro, enfim, de imobilidade económica, social e política que o 'regime' pretende, a todo o custo conservar inalterado e que o filme [volto a dizer: sem ofender demasiado a inteligência de quem souber vê-lo com o olhar crítico que sempre se impõe, de um modo particular, quando se trata do cinema do 'regime'] em caso algum, põe em questão.

Pelo contrário, de facto.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

"Programa"



Também eu gostaria de saber 'dar corda ao mundo' a ver se alguma coisa finalmente nele se move...
...na direcção certa---seja ela qual for, quero eu dizer...

"In A Lonely Place"


A imagem com que [quase] encerro o 'dia virtual' de hoje mostra a notabilíssima actriz e realizadora que foi Gloria Grahame e Humphrey Bogart em "In A Lonely Place" de 195o, realizado por Nicholas Ray e produzido pela companhia produtora do próprio Bogart, a Santana Pictures.

Recordo-o aqui porque se inscreve perfeitamente no tipo de estado de espírito de profunda [e, em larga medida, inexplicável] tristeza que a quadra raramente deixa de suscitar em mim.

Será por puro espírito de contradição que o Carnaval sempre me despertou estados de espírito de funda melancolia e extrema tristeza---aproximando-se perigosamente da depressão?...

Sempre achei, em qualquer caso, que, em determinados momentos e circunstâncias, independentemente da altura do ano ou da natureza do momento, o cérebro [quando não o coração] de um homem podem ser alguns desses bem "lonely places" de que fala o título...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

"A Boba"


Eu estou em falta para com a Maria Estela Guedes.

Eu estou, de resto, em falta para com muita gente mas isso agora não vem ao caso.

É da minhha falta para com a Maria Estela que eu queria aqui falar: a verdade é que eu escrevi, no "Quisto", um pequeno texto sobre ela que a preguiça, porém, não me deixou rever pelo que, quando a Estela mo pediu para o seu inestimável Triplov...

Adivinharam!

Passaram-se os dias e de revisão... nada!
Claro quem, de prometido envio, tão pouco.

É, todavia, uma enorme injustiça porque o libreto d' "A Boba" [é dele que falo] da Maria Estela é, de facto, particularmente estimulante, envolvente, textualmente riquíssimo, meticulosamente elaborado na sua aparente imediata 'transparência' ou 'clara translucidez textual'.

É um "teatro da palavra", disse-me ela um dia---e é.

Mas também o é do Pensamento [nada "daquilo" é gratuito ou cultu(r)al e até politicamente descuidado ou arbitrário] e da Cultura: há, com efeito, "ali" de "portuguêsmente [quase] tudo"---de Gil Vicente e Ribeiro Chiado à lição teatral de um Brecht.
Há Agustina, Camões e Bocage, dizem.
Há, sobretudo uma síntese textualmente fulgurante e implacável de várias linhas sémicas que compõem [e descompõem? Des-compõem?] o mito, ligadas entre si numa excitante e provocária, originalíssima, 'disposição dialectizante' que as anima continuamente e impele a revelarem-se---mais, talvez, até, do que aquilo que elas próprias e uma certa historiografia [demasiado] oficial gostariam...

Há isso e há ressonâncias chaplinescas e de operáticas de Leoncavallo e até [eu assim penso...] verdianas: do trágico "Rigoletto", desde logo.

Rigoletto contido por Gil Vicente e pensado por Brecht, podia ser uma chave para ler esta pícar' "A Boba" que está, agora, de viagem.

Vai a Lamego: se de lá me lerem, aceitem uma sugestão: não percam "A Boba".

Informem-se: ela vai passar por lá, um dia destes!

"Monangambé"


Não resisto a um "roubo" que é, porém, na realidade, um triplo tributo: ao Poeta António Jacinto/'Orlando Távora' (1924-1991) [que aqui constrói um documento---muito mais do que de um poema é, na realidade, disso que se trata: de um documento verdadeiramente arrepiante de clareza, um 'objecto escrito' construído quase exclusivamente com sangue e carne viva em vez de metáforas!]; a Rui Mingas que o musicou e cantou e, por fim, ao Samuel que, no seu inestimável "Cantigueiro" o reapresentou, na voz cristalina de Lura.

Falo de "Monangambé", uma canção que nunca consegui ouvir sem um nó na garganta e de que aqui deixo, sem mais comentários, o texto "roubado", como comecei por dizer, do mágico "baú" do Cantigueiro: tudo o que sobre ele, poema, pudesse dizer, só poderia "sobrar".

Experimentem, um dia, ouvir e, depois, logo me dizem...

E, já agora, façam como na ópera: ouçam com o libreto aberto à frente e... arrepiem-se como eu!...


Monangambé

(António Jacinto/Rui Mingas)


Naquela roça grande
não tem chuva
é o suor do meu rosto
que rega as plantações;
Naquela roça grande
tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue
feitas seiva.

O café vai ser torrado
pisado,
torturado,
vai ficar negro,
negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!

Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo?
quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia
ou o cacho de dendém?

Quem capina
e em paga recebe desdém
fuba podre,
peixe podre,
panos ruins,
cinquenta angolares
"porrada se refilares"?

Quem?

Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer?

Quem?

Quem dá dinheiro
para o patrão comprar
máquinas,
carros,
senhoras
e cabeças de pretos
para os motores?

Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande
ter dinheiro?

Quem?

E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:

Monangambé...

Ah! Deixem-me ao menos
subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo
e esquecer
diluído
nas minhas bebedeiras...

Monangambé...

António Jacinto (Poemas, 1961)


[Imagem extraída com vénia de antoniomiranda.com]

"Evocação da Revolução Cubana..."

... publicada por Márcia Cristina Hungenbühler no 'Facebook'.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

"«Ora Toma!» ou «Ah! Bom! Assim Já Estou Mais Descansado!...»"


Termino por hoje com uma sentença lapidar do meu Amigo Mário, estivador em Marte:

"E NÃO VALE A PENA PREOCUPAREM-SE MUITO SE A VIDA, UM DIA, NÃO LHES CORRER COMO DESEJAM.

É QUE, PARA CADA PROBLEMÁTICA, HÁ SEMPRE UMA... SOLUCIONÁTICA!"
[Imagem da Net]

"Affiche de Publicité" [Colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]

"A Deusa Terra" [Colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]

"Ecologia e Florinhas..." [Por rever]

Uma brevíssima experiência como [muito modesto!] autarca, permitiu-me, entre outras lições, perceber o modo como na opinião de um certo cidadão médio [de um certo "monsieur Tout-le-monde" nacional] em última análise, qualquer [anti] modelo de des-ordenamento urbano e/ou urbanístico assim como, no fundo, qualquer tipo de atentado a uma lógica verdadeiramente sustentável de crescimento [urbano-urbanístico mas não só] é "remível" com recurso à criação da famigerada figura-alibi dos "espaços verdes".
Impermeabiliza-se com construção uma extensão xis de terreno que devia servir como zonas-tampão para efeitos de oxigenação e absorção das águas pluviais?

Constrói-se-se-lhe ao lado um "espaço verde".

Descaracterizam-se ruas, bairros, vilas, cidades inteiras com verdadeiras monstruosidades arquitectónicas [?]---"pós-modernices" inomináveis que rompem com o que quer que ainda fosse possível ter conseguido conservar de equilíbrio organizacional e estético anterior?

"Não faz mal" se [adivinharam!] ali perto se construir um... "espaço verde engana-tolos" qualquer que, de imediato, legitima a barbaridade!

O argumento é muito "americano": as defesa da livre iniciativa e/ou o carácter sacrossanto da propriedade.

Por toda a parte se descentram e tornam completamente in-orgânicas cidades que, durante anos lograram, fosse como fosse, conservar ainda um quam satis de equilíbrio urbanístico mas de igual modo psíquico e até social; de harmonia estética, potencial factor de vários tipos equilíbrio natural [a ecologia é, decididamente, muito mais do que flores e folhinhas verdes "estrategicamente" dispersas, implantadas entre manchas de indescritível selvajaria urbana e social] porque é preciso "avançar com os tempos e responder às aspirações individuais e colectivas das sociedades «modernas» no sentido do acompanharem o movimento do «progressso» e do «desenvolvimento»" e por aí adiante.

Planificação mesmo apenas mínima [mesmo apenas como intenção ou sinal político] do desenvolvimento e do progresso como pressuposto nuclear de desenvolvimento e de progresso, "é mentira", como dizem os jovens de hoje.

Vivemos, como tantas vezes, tenho dito, numa falsíssima "sociedade do conhecimento" cujas formulações básicas e essenciais de natureza organizacional estrutural nunca estão como naturalmente só poderiam estar se fôssemos, de facto, a tal "gnoseotopia" ou "sociedade gnoseotópica" que muitos [porque há muita tecnologia em circulação" no seu interior] se obstinam em garantir a pés juntos que somos [ou que estamos, pelo menos em vias de ser] estrita mas não estreitamente submetidas a modelos estruturais/estruturantes ditados pelo conhecimento realmente científico mas tão-somente às determinações autónomas da propriedade e dos [aqui sim: estritos e frequentemente estreitos!] interessses proprietários.

Mais: o modelo de organização autárquica foi sendo, de tal modo, descapitalizado que apenas vai logrando sobreviver através da negociação prática dos seus poderes com os interesses privados[designadamente, como se sabe, dos da construção civil] o que sob muitos aspectos vai deixando aquela gradualmente refém dos interesses desta e da sua possibilidfade de gerar continuamente capital.

Câmaras municipais há que existem apenas---e pouco lhes falta, aliás, já para admiti-lo expressa e publicamente, inscrevendo-o exactamente no tal projecto supostamente "moderno" de "desenvolvimento" e "fomento do progresso"...] porque existem os tais interesses e para serem utilizadas como "broker" e/ou "corretor" objectivo deles---à semelhança, de resto, do que acontece com os paradigmas correntes de Estado central, os quais fizeram precisamente a sua triunfal entrada na "Pós-modernidade", celebrando com trombetas a transformação final do Estado-nação moderno no "Estado... almocreve" ou "Estado funcional" que é hoje-por-hoje a modalidade vulgar de Estado vigente na "Europa"---e um pouco por toda a parte, afinal.

Com as consequências ou os efeitos [económicos, sociais, políticos, cultu(r)ais, ambientais, etc.]que se conhecem...

Ora, aquilo que eu digo é que a Ecologia não é [não pode ser!] uma espécie de carro-vassoura dos interesses, destinado a ir atrás dele tapando buracos que ela, uns metros [ou quilómetros?...] à frente vai abrindo.

Isso é mera... "decologia" ou ecologia "decorativa": florinhas, meia dúzia de árvores, umas "coisas" de madeira em lugar de outras de aço ou ferro.

A Ecologia [com maiúscula!] tem de ser muito clara e muito consistentemente o ramo do Conhecimento [da Ciência!] usado pelo poder Político [igualmente com maiúscula quando finalmente lograrmos, como sociedade, possuir um!] como o elemento de ligação orgânica indispensável, nuclear, entre aquele mesmo Conhecimento e a realidade organizacional humana ---que é como quem diz: entre as sociedades humanas onde quer que elas se encontrem e a respectiva possibilidade objectiva, material, concreta, de, a prazo, pura e simplesmente, subsistirem.

Tem de ser, por outras palavras, um pressuposto absolutamente essencial [e essenciante!] de desenvolvimento---não um alibi ou uma mera circunstancialidade móvel---e instrumental aplicada a posteriori algures "a gosto" no curso do 'circuito desenvolvimental' para "decorá-lo" e torná-lo exteriormente tragável; para dar a ideia de estar o mesmo completamente "legitimado"---aos olhos, pelo menos daqueles que olham para estas coisas da sustentabilidade do planeta e da Vida---para a questão vital da Biose---com o olhar tipicamente calino e invariavelmente aborregado e imbecil do consumo.

Como é típico-e-tópico daqueno caso da "ecologia por florinhas e raminhos verdes" que vemos... florir por toda a parte---sobretudo onde [e quando] há poder económico por perto...

Estava eu a pensar, mais uma vez, em todas estas ingentes e urgentes questões asociadas à sobrevivência humana quando leio no "Público" de 12 de Fevereiro de 2010, sexta-feira, uma notícia assinada por Aníbal Rodrigues, intitulada "Multas até 47.500 euros para quem "urinar e defecar" fora dos locais próprios nos parques de Gaia".

Um sinal---um dos tais sinais de ideal vontade política de que atrás falo para afirmar que faltam por toda a parte entre nós?

Aparentemente sim só que...

... Só que, informa perto do seu final o artigo o Regulamento que prevê as multas existe mas não a guarda florestal que deveria naturalmente fazê-lo cumprir!
"Somos", diza o presidente do Parque Biológico de Gaia, "provavelmente o único país do mundo que não tem guardas florestais"!


Mais uma vez, portanto, aparecemos ao mundo mas, sobretudo, a nós próprios como País, aquele que tem as melhores leis que, todavia, ninguém sabe como fazer passar à prática que é onde as leis devem estar...

Leis que por isso ninguém pensa verdadeiramente em cumprir---o que, aliás, de um certo ponto de visto subjectivo e cultu(r)al, consegue ser pior ainda do que não tê-las dando-se, assim, alegremente continuidade e corpo à sociedade de... "pouco-mais-ou-menos" que, como País, nos obstinamos tenazmente em permane-ser...

Mais: parece [diz o autor do artigo, citando o presidente do Parque Biológico de Gaia] que, além da falta do tal corpo de guardas [que já existiu, aliás, em tempostendo sido levianamente devorado por uma reforma qualquer, entretanto, concebida por um idiota e incompetente não menos "qualquer", eleito por obra e graça da "Imbecilocracia" reinante em Portugal há vários anos, em "Político" e/ou "Homem de Estado"] agora é, também, a "tal Europa" que era suposto "levar-nos à glória" [senão mesmo, segundo alguns mais entusiastas, ao... "êxtese civilizacional"...] que não prevê "fundos" para a criação de "espaços verdes"...

Dos "de brincar" como, imagino, dos que o não são---daqueles espaços-pulmão urbanos e inter-urbanos estratégicos que, há muitos anos, sempre clamando, aliás, no deserto, vêm preconizando figuras e personalidades como o Arq. Ribeiro Telles.

De nenhum!

Não há, meus amigos, dinheiro "europeu" para "espaços verdes", ponto final!

Há para muita coisas, boa e má, mas para conservacionismo, "está de chuva"!...

Um quadro triste e inquietante, este, pois.

Agora só faltava mesmo que o "tal Berlusconi" [que, aqui entre nós que ninguém nos ouve, cá para mim serviu de inspiração e modelo àquele ridículo "Capitano Bertorelli", mulherengo e poltrão, de "'Allô! 'Allo"!...] entre dois 'borrachinhos' protegidos, uma orgia "badalhoca" qualquer e um par de murros encaixados na "fronha", dados com a catedral de Milão em punho, se lembrasse que "giro, giro" era a Itália "papar" agora umas centraizinhas nucleares "com batatas fritas" que era uma beleza!

'Ele' há agora até umas muito giras que...

[Imagem extraída com a devida vénia de lfb.org.images]