De hoje em diante, regresso com renovado vigor a uma antiga paixão infantil e adolescente que permaneceu, com intermitências, sempre um pouco marginal: o Covilhã, um clube que comecei há muito a admirar desde que sob o meu extasiado e facilmente inflamável olhar juvenil caiu a célebre fotografia em que se via um vigoroso 'Matateu' a chutar acrobaticamente em queda no meio da neblina serrana, no velho Santos Pinto por onde passaram nomes que, a partir daí, para mim, ganharam foros de autênticos mitos longínquos e quase irreais [A Covilhã para alguém como eu, com "sólida cultura e natural vocação de alentejano", era difusamente "lá para o Norte", um norte indefinido e branco que a leitura de Ferreira de Castro e d' "A Lã e a Neve" tingiu do fascínio adicional e, a seu modo, até definitivo da tragédia].
Nomes como os de Rita [o Rita dos Mártires a quem a vida pregou uma partida terrível pondo-o a substituir o clássico e incontornável Costa Pereira em Dortmund sobre uma camada espessíssima de gelo, nuns célebres 1-5 que ditaram o fim da carreira do guarda-redes algarvio ao mais alto nível]; Manteigueiro, Couceiro [o tal cujo cromo se recusou sempre com uma obstinação que nunca entendi a vir-me parar às mãos mau grado os "cinco escudos" diários de "bonecos da bola", comprados sempre com a respiração suspensa a ver se, finalmente, pelo que já só podia ser milagre, dessa vez é que era...] e, sobretudo, dos irmãos Cavém, o Amílcar e o grande Domiciano, o "Cavém do Benfica"...
Para o Sporting da Covilhã [assim como para o Barreirense e o Oriental, duas outras paixões juvenis tão inexplicáveis, aliás, quanto esta] canalisei eu tudo quanto era admiração desinteressada e pura ou paixão radicalmente isenta de propósito de retribuição ou prémio.
Para mim, o Covilhá era [e permaneceu sempre um pouco] o sonho magicamente revivido por cima do tempo e contra o próprio tempo---a paixão juvenil misteriosamente reencontrada.
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