sexta-feira, 30 de abril de 2010

"Uma estranhíssima sensação de súbita insegurança..."


Não sei porquê, algo me diz que alguma coisa na minha vida vai correr mal, muito em breve...
O que será---e com quem?

sexta-feira, 23 de abril de 2010

"«Doce Manuela» de Júlio José Chievenato"

Já sugerida algures, também.
Uma revelação: Júlio José Chievenato e "Doce Manuela".
Uma descoberta a fazer, sugestão de leitura para o Dia Mundial do Livro.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

"In Memorian..."


... de Vasco Gonçalves, uma das melhores, mais generosas, mais dignas e mais sérias pessoas que alguma vez conheci e das que a Pátria pior tratou apesar disso.

Teimosamente vivos aqui estamos para recordar-te, companheiro Vasco!

"25 de Abril"


Acordes que arranham a memória e gelam, ainda hoje, de saudade e emoção!


Quanto País desperdiçado, desde 1975 até hoje!


Mais de três décadas volvidas sobre o acontecimento fundador do Portugal Contemporâneo, a expressão de um desejo [ou de um sonho] impossível: o de que fosse possível encurtar a História de trinta dos seus anos---precisamente os últimos---e recolá-la no instante exacto em que a Revolução caíu às mãos dos que, de um modo ou de outro, negando-a abertamente ou fingindo, pelo contrário, astutamente incorporar-se de forma franca e leal nela, sempre desejaram que ela nunca tivesse realmente acontecido e tudo fizeram para que ela morresse.


domingo, 18 de abril de 2010

"Amo-te: um nome difícil no silêncio"


Hoje quero dizer-te apenas "amo-te"
com a parte mais escura e densa do teu nome

quero dar-te um lugar na sombra
da primavera outono que me cabe
e sabe
no verão ilimitado e tubular do meu silêncio

em silêncio


quero-te pálida e onda no hemiciclo da sombra
no anfiteatro da voz
no teatro destruído e só
de areia
nocturna;
no disseste
completamente nu que é em certas condições de luz e confiança
[ou mesmo amor]
o ar inteiro

quero-te no nome responsável do meu sol
completamente desarmado
que é
viver

quero-te na margem irrepetível e íngreme do meu próprio suor enrodilhado
na doença veloz outrora sangue que é o faz-se
sangrando sons e pó
de pé
na noite imaginária

quero-te na bruma do meu próprio assombro
quase ofendido de luz e
de esperança

quero-te nas águas revoltas do verso apagado
quero-te no tumulto vão das sombras rescendendo a óleo e a
definitivo.

quero-te na terra em estado de luz
e maio;

quero-te nas folhas de uma terra impossível e contida;
quero-te no pano transtornado
e fulminante da tarde devorada em surdina
e inchada de gente que entra e sai
da nudez baça e vaga
jovem e súbita

que hoje somos
tu e eu.

[uma juventude, sim, mas muitas vezes repetida
uma juventude sofrida em silêncio pelas árvores que nos cercam
de perfume amplíssimo e horizonte;
que nos assediam de movimento sombra
---e essa luz-ave que abre a boca à chuva exacta e nos vigia:
ramos de incerto um pouco como um sulco de sono
mas deserto e abandonado
fulgindo entre as copas das aves que no ar
morrem de vento e
luz!

belo incesto esse, digo apenas morto
de uma húmida felicidade que me limita em inúmeras flores
e um triunfo
---o incesto da luz com a erva circular
e da areia com seus frutos!]

quero-te da espuma de um vento que nos saiba ler
e ser

que nos reduza à alegria e nos devore como um fruto
apetecido e definitivo
que nos viole de poeira e alegria
que nos saiba a voz e continuamente nos renove
que nos ache belos e nos grite sempre,
no teatro diário e sábio da madrugada
a primeira primavera do dia
através da idade e da experiência;

que nos coma o peito sim mas devagar
e nos devolva a todo o tempo o riso
---e a liberdade de amanhecer sempre
com um beijo.
Carlos Machado Acabado
[18.04.10]

sábado, 17 de abril de 2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

"There inevitably comes a time..."


... when you feel the urge to be taken back to where you first saw the light and chant something like this to the stones, the trees or even to the fluttering flocks birds in the distance...

Chorus

Take me back to the place

where I first saw the light
To my sweet sunny south, take me home
Where the wild birds sing me to sleep every night
Oh why was I tempted to roam?

The path to our cabin they say has grown green
And the stones are quite mossy around
I know that the faces and the forms that I love
Now lie in the cold mossy ground.

Chorus

Take me back to the place where the orange trees grow
To my place in the evergreen shade
Where the flowers on the river green margin did grow
And shared their sweet shade with the glade.

Chorus

http://www.youtube.com/watch?v=XmIU85gbo5Q


[Na imagem "Reflections of a Spring Day" by Robert Richert]

quinta-feira, 15 de abril de 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

"«Shane» de Georges Stevens" [incompleto]


... ou a tragédia grega revista em versão "western".

Um dos mais perfeitos filmes de sempre e uma fabulosa história de amor.

A tragédia que Stevens traz para o "western" [em larga medida, aparente] que é "Shane" está, desde logo, no confronto entre as forças históricas em presença, por trás dos "heróis" individuais e/ou familiares, digamos assim: os agricultores, símbolos de uma América que se sedentariza e estabiliza, tentando, de passo, enterrar 'fantasmas fundadores' [o genocídio dos povos locais, aliás, ausentes do filme---eu diria, até "significadamente ausentes" do filme!---mas também de algum modo, aqueles que co-protagonizaram activamente esse mesmo acto fundacional corporizados aqui nos criadores de gado, cuja expansão foi, em grande medida, a causa directa do extermínio dos índios dada a enorme amplitude do espaço necessário para as pastagens] e estes mesmos criadores de gado, subtilmente identificados, aqui, com o "Mal" no sentido em que dão corpo à sugestão de uma América primitiva, incapaz de fixar-se e "civilizar-se" finalmente e que tem, por isso, de ser, de alguma forma, real e simbolicamente eliminiada.

Não por acaso, é 'Ryker' quem contrata pistoleiros [Starret não contrata Shane: é Shane quem toma a defesa de Starret mas como uma "causa", em larga medida ditada por um amor impossível por 'Marian', uma interessantíssima personagem de 'amorosa impossível' muito bem defendida por uma já não muito jovem mas eficientíssima Jean Arthur].

Tal como não é por acaso que Shane tem de partir no fim: a morte de 'Wilson' [um extraordinário Jack Palance num dos dois ou três verdadeiramente grandes papéis da sua longa carreira: um dos outros seria no clássico "The Big Knife", de Aldrich, por seu turno, uma das grandes referências do naturalismo cinematográfico norte-americano]; a morte [a 'execução'!] de 'Wilson', dizia, como a de 'Ryker' não pode, em caso algum, ser integrada, ser assimilada, ser assumida, pelas forças que, no fim, triunfam: cumprido o seu papel de "anjo vingador", Shane, o próprio Shane, tem de ser afastado numa das mais impressivas despedidas da História do Cinema [das mais eficazes, em qualquer caso] com 'Joey'/Brandon de Wilde a gritar para o vazio o nome de um Shane que vai gradualmente desaparecendo na penumbra, desvanecendo-se numa noite sem fundo que é tanto real como, a meu ver, sobretudo, metafórica.

Repare-se, aliás, como esta questão da Morte impendente aparece dada no filme, por exemplo [talvez máximo] na sequência-chave do duelo final que ilustra esta "entrada": uma cena onde a sombra, as trevas e uma angustiante solidão dominam quase obsessivamente tudo, anunciando já o fim da era que 'Wilson', os 'Ryker' e o próprio 'Shane' corporizam.

Há quem censure ao Cinema de onde "Shane" emerge, temporal e cultu[r]almente, o ser sempre, de um modo ou de outro, o Cinema da renúncia e, num sentido muito subtil, da auto-repressão, um cinema auto-censório, por assim dizer.

[Veja-se, por exemplo, como Stevens e Lean, com um continente inteiro e referências históricas, sociais, cultu[r]ais, etc. completamente distintas, coincidem, ainda assim, na ideia [no topo] da impossibilidade de dois amores que, extremamente afirmativos embora, violam as regras de uma moral onde o dever se impõe sempre à vontade e especificamente num sentido assumidamente sexual ao desejo.

Eu, aliás, sempre vi em "Shane", entre várias outras coisas [todas elas interessantíssimas, aliás] uma espécie de epígono muito subtilizado do mito de Romeu e Julieta em que a coacção familiar foi substituída pela noção já francamente interiorizada justamente do dever, da assunção de uma ética].

É uma crítica que permite ligar, por exemplo, um "western" [por muito mais do que... mais do que um "western" que o filme de Stevens seja---e é!] como "Shane" a uma obra-prima realizada em Inglaterra por um não menos extraordinário realizador, David Lean, a partir de uma peça curta que nada ou à partida muito pouco tem em comum com um "filme de cowboys": "Brief Encounter", [brilhante!] adaptação cinematográfica da peça "Still Life" de Noel Coward.

Pessoalmente, devo dizer que discordo em absoluto da crítica, assim apresentada---e formulada deste modo tão simplista, digamos assim.

Discordo, não obviamente da existência de claros mecanismos auto-repressores perfeitamente reconhecíveis assimilados pela narrativa quer num quer noutro dos filmes em causa mas da irrelevância antroplógica e cultu[r]al profunda dos mesmos.

Ou seja: eu admito que se trate, num plano mais imediato e mais restrito, da integração na ficção de traços cultu[r]ais estáveis associados à visão essencialmente dualista característica da cosmovisão judaico-cristã e ao modo específico como esta lida com o corpo e com as suas funções [designadamente as de natureza especificamente sexual ou até, no caso particular da vertente puritana, genericamente sensual]; isso----essa osmose e/ou assimilação natural dos paradigmas abstractos de representação da realidade próprios da religiosidade tópica de cada cultura pelos modelos ficcionais correspondentes, parece-me, aliás, evidente.

Agora, eu creio, de igual modo, na, chamemos-lhe "estabilidade trans-histórica" [e até, num certo sentido antropológico possível, meta-histórica] de determinados modos fundadores, muito mais antigos e profundos, que se prendem com os mecanismos psíquicos resultantes da necessidade de os indivíduos se adapatarem a novas formas objectivas, física ou materialmente estabilizadas, de organização das sociedades humanas; modos esses que permitem, penso eu, aproximar o genericamente cultu[r]al do especificamente sacro.

Ou seja: não há sociedade sem repressão e, portanto, não a há sem auto-repressão.

A sociedade resulta do equilíbrio entre pulsões expansionais e outras equilibradoras que conservam essas em níveis socialmente assimiláveis e integráveis.

A minha tese é que as sociedades como os próprios indivíduos adquirem formas em larga medida inconscientes e mais ou menos estáveis de recolher essa informação, esse saber necessários àc estabilização das comunidades e que utilizam tanto o sacro como o ficcional para a fazerem circlar no interior do todo social, acabando por conduzir à fixação de determinados "topos fundacionais" que, perdida a respectiva base funcionalm, se convertem em abstracto em Cultura "pura".

Pessoalmente, acho que é esse mecanismo progressivamente desfundamentador de um saber socializante essencial que explica, em última instância, antroplógica e, de algum modo, realmente a presençav de traços estáveis comuns nas diversas culturas e de um vasto conjunto de modos e maneiras [Cf. por exemplo o topo da "ressurreição" e/ou da morte iniciática em universos cukltu(r)ais de tipo mais abertamente gnóstico e exotérico ] envolvendo todos eles esta ideia de "morte possibilitante" ou mesmo de "auto-mutilação possibilitacional".

É uma tese minha que vale o que vale mas a propósito da qual eu me permito supor que existe nela alguma probabilidade, chamemos-lhe "educada e/ou tética viabilidade".

Eu defendo que é essa estreita ligação do topo em causa, em sentido geral, a algo de verdadeiramente essencial na formação das sociedades humanas que explica que ele seja, sempre, de um modo ou de outro, percebido como algo de admirável e de nobre e, nesse sentido, claramente positivo.
Nós admiramos o sacrifício de 'Shane' como admiramos o do médico representado por Trevor Howard em "Brief Encounter".

É perfeitamente reconhecível num caso como noutro o modo como as culturas ainda hoje usam o topo da 'morte sacrificial' [que é, como digo, também a 'morte possibilitacional'] como forma de se auto-consolidarem.

Não excluo de igual modo a hipótese de existir um outro fundamento, de natureza biofilogenética mais profunda ainda, para o próprio topo---um que passe pelo que poderíamos talvez designar por uma "geneticização" específica, um resíduo pré-consciencial, de um saber ancestral associado aos ritmos naturais, especificamente sazonais que não se tivesse completamente perdido na fase em que o real se "conscienciou".

É uma outra hipótese adicional que admito, em qualquer caso.

Em termos genéricos, a minha tese é que as formas concretas da cultura não são, em caso algum, completamente arbitrárias, derivando algumas delas, pelo menos [alguns topos particulares dentro delas] do modo como a própria realidade tal como hoje a conhecemos se formou ou, melhor dizendo, se foi formando.

Seja como for e a admitir a tese da natureza expansional e do carácter concêntrico da realidade como todo, "Shane", de George Stevens, é um exemplo notabilíssimo do modo como isso, esse tipo de pulsão primária, pode converter-se por fim em Arte.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

"E agora..."


... vou-me deitar que o meu coração não aguenta mais emoções, hoje!

Se quero chegar vivo ao Verão, tenho mesmo de guardar as emoções todas que coleccionei hoje numa caixinha até amanhã...

É isso!

Até amanhã que, por hoje, como digo, já esgotei a minha quota diária de emoções...

Safa!

Se isto continua assim não chego aos... 20 anos...

Nem a brincar! Olha! Olha!...



[Imagem extraída com a devidíssima vénia de templates-dot-com]

"Um instante absolutamente perfeito de CInema" [inc.]


Agora, se querem ver um momento de Cinema simplesmente prodigioso, concebido rigorosamente como uma grande tela ou um extraordinário poema---para não dizer como um trecho musical, um andamento sinfónico, um acto de ópera; um exemplo absolutamente perfeito de timing [de jogo ou teoria de timings encadeados, concêntricos, interpotenciados, organizados num todo orgânico globalmente, no mínimo: dificilmente ultrapassável] onde tudo, dentro e fora dos corpos, dos rostos, das posturas em cena funciona de um modo maravilhosamente simples mas absolutamente perfeito, ideal, onde até o absurdo parece, bruscamente lógico, perfeitamente racional e até [sublime toque final de génio do verdadeiro exemplo de narrador que montou aquilo tudo] pura e simplesmente inevitável; se querem mesmo ver isso concretizado num fragmento autenticamente imortal de Cinema, vejam-me esta sequência de "Rio Bravo" de Hawks, filme do qual, a propósito da banda sonora, ela mesma, notabilíssima de Dmitri Tiomkin.

Permito-me chamar a atenção para os ritmos dentro da cena genialmente manejados por realizador e actores.

A cena contém dois "baixos", duas "descidas" de tom absolutamente fulcrais para "puxar" o efeito final: não esqueçamos que 'Dude'/Dean Martin é um alcoólico que começa precisamente na altura a recuperar e que toda a gente vê nele ainda o "borrachón" que todos lhe chamam e, se começam por hesitar na possível reapreciação da sua persona, quando o vêem entrar no "saloon" armado [repare-se no pormemor cinematográfica e, de um modo mais lato, semanticamente perfeito, da mudança de campo quando Wayne entra e, qual anjo tutelar---que, de resto, é ao longo de todo o filme na exemplificação de uma daquelas "amizades viris" tão "hawksianas"---bate com a porta produzindo um primeiro referencial sonoro mas, de igual modo, sémico, para a cena]; não esqueçamos, dizia, que 'Dude' está, na prática, a ser julgado, que dos seus mais pequenos gestos está, neste momento, tudo, no fundo, dependente e registemos o modo genial como Hawks e Martin "dão" isso, essa suspensão angustiada e angustiante do próprio Tempo [que parece, por segundos, 'tender para o infinito'] no écrã.

E admire-se o modo como Dean Martin se move em cena, primeiro deliberadamente desajeitado, tentativo, hesitante, transmitindo, precisamente, por mímica o que a cena tem---o que ela deve ter!---de frágil, de inconcluso, de suspensivo e, por conseguinte, de denso mas, também, de [quase insuportavelmente!] tenso.

Note-se como o rosto e a subtilíssima deslocação da postura física assim como a somra que perpassa fugazmente na mímica facial de Wayne pontuam, de forma absolutamente soberba, a inquietação, a [quase, apenas?] fisicamente dolorosa antecipação do fracasso.

Mas é, sobretudo, Dean Martin, andrajoso e hesitante porém sempre profundamente digno no modo como assume o risco de ir até ao fim com aquilo que é, na realidade, uma prova [e uma provação!] uma e outra, inimaginavelmente loucas pelo seu conteúdo em determinação, em dimensão humana e, de um modo geral, em bravura ["guts", dirá, noutro momento, não escondendo a admiração essa figura soberba, paradigmática, definitiva, de "sidekick" que é "Stumpy"/Walter Brennan]; mas é, dizia, sobretudo Dean Martin quem "segura" um projecto de sentido geral para o que aparece no écrã: é dele o mérito de as duas "descidas" agónicas que a cena comporta terem resultado de forma verdadeiramente perfeita e é dele o mérito do modo como "segura" om pormenor final envolvendo a recolha da moeda, onde a sequência inicial é citada e de onde emerge, perfeitamente simbolizada, a ideia do renascer de 'Dude', do seu regresso por direito à dignidade.

Ao menos, como vontade---uma vez que, como é sabido, o processo global envolverá outros momentos menos conseguidos antes do triunfo final.

Registe-se também o modo como Hawks "funde" [é o termo] de um modo espantosamente eficaz e brilhante, a necessidade ou a conveniência de filmar do ponto de vista físico do assassino [em "contre-plongé", em "picado", sobre 'Dude'] conseguindo, desse modo, fechar genialmente o registo da filmagem "em cima" de duas ideias em simultâneo, "dando", assim, com uma eficiência, de facto, notável, num único movimento, a sugestão de exposição e de perigo em sentido imediato, concreto a que está exposta a personagem mas, de um modo mais lato e mais abstracto, também potenciando a ideia básica da vulnerabilidade existencial do próprio 'Dude' associada à dúvida sobre se conseguirá ou não sair com sucesso da "persona" de "el borrachón" que carrega consigo ['Pat' Wheeler faz-lho regularmente lembrar, "hammering in" como diria um inglês ou um americano, a ideia...] e impor-se, finalmente, como Homem.

A angulação, por seu turno, transmite [muito à maneira do velho 'expressionismo' alemão] a sugestão abstracta de inquietação, de des-fixação, de incerteza, de angústia, de averticalidade intrínseca do real ["realismo subjectivo ou subjeccional"] que, como vimos, deve ressaltar claramente de toda a sequência até ao "turning point" crucial configurado, no, em si mesmo quase caricatural, pormenor do sangue a cair no copo que muda, por completo, a direcção do próprio sentido básico da sequência [num filme italiano cujo título muito francamente esqueci: que não consigo localizar e identificar na "Rede"---seria "Rosso e Nero" de Domenico Paolella, de 1955?---que foi um avôzinho distante do "western spaghetti" de Corbucci a Leone e que contava com as interpretações de Walter Chiari e Renato Rascel nos principais papéis, parodia-se mesmo expressamente a sequência].

Mas... vejam! Vejam a sequência, assim contextualizada [há curiosamente muito do duelo final de "Shane" nela...], no Youtube e depois, digam-me...


"Não vem nada a propósito..."


... mas e, se, de repente, eu tivesse de escolher "a" canção?...

Não as canções ["da minha vida", como diz 'o outro'] mas "a" canção.

Ainda não há muito, teria respondido, sem pensar, quase instintivamente", "Rio Bravo"



de Dmitri Tiomkin, em particular, a canção-tema [cantada pelo irrepetível Dean Martin---qual Sinatra, qual carapuça! Dean, "The great Dino", "the one and only Signor Crocetti, that's the one"!]; o bom do Dino perdendo-se na noite, no final, lado a lado com um inimitável Walter Brennan, entoando com aquela espantosa voz de cera branda e de veludo "...like the song she sang in Spanish, seemed to vanish, in thin air..." enquanto para trás ficou um "enorme" romance de amor entre o velho Wayne [um reaccionarão incrível mas um actor único quando metido na ordem por um sábio Ford ou um não menos bom e menos sábio Hawks...] e uma esplendorosa Angie Dickinson, à época "in her prime", luminosa, incrivelmente feminina, uma espécie de [via Hawks] Bacall de cristal de um Bogart que, por acaso, não gostava de cavalos nem do campo mas fingia--e de que modo ele fingia!...

Noutras alturas, teria muito provavelmente escolhido o meu "pecado musical de cabeceira"---de que me envergonhei toda a vida até ter "notado" quer o próprio Chaplin o escolhera [esquecendo-se de caminho do pequeno pormenor da propriedade intelectual...] como tema musical do seu próprio clássico "City Lights": "La Violetera".


Pois, hoje, não!

Hoje, a minha escolha por uma série de razões que não vale a pena estar aqui a enumerar, escolheria esta prodigiosa interpretação de uma "coisa" monstruosa de bela chamada "The Power of Love".

Eu deixo até aqui o poema [é um poema, ora confirmem!] para, se assim o desejarem, poderem seguir a fabulosa interpretação dada pela incomparável Jennifer Rush.

Aí vai, então!

The Power Of Love lyrics
Songwriters: Mende, Gunther;
Rush, Jennifer;
Applegate, Mary;
De Rouge, Candy;

The whispers in the morning
Of lovers sleeping tight
Are rolling like thunder now
As I look in your eyes.
I hold on to your body
And feel each move you make
Your voice is warm and tender
A love that I could not forsake
'Cause I am your lady
And you are my man
Whenever you reach for me
I'll do all that I can.

Lost is how I'm feeling,
lying in your arms
When the world outside's too
Much to take
That all ends when I'm with you
Even though there may be times
It seems I'm far away
Never wonder where I am
'Cause I am always by your side
'Cause I am your lady
And you are my man
Whenever you reach for me
I'll do all that I can

We're heading for something
Somewhere I've never been
Sometimes I am frightened
But I'm ready to learn
Of the power of love

The sound of your heart beating
Made it clear
Suddenly the feeling that I can't go on
Is light years away
'Cause I am your lady
And you are my man
Whenever you reach for meI'll do all that I can.

We're heading for something
Somewhere I've never been
Sometimes I am frightened
But I'm ready to learn
Of the power of love

domingo, 11 de abril de 2010

"Por Uma Vez..."


LET'S BE PERFECTLY CLEAR:

BULLFIGHTS ARE FOOL-FIGHTS!

sábado, 10 de abril de 2010

"La Gazza Ladra/The Thieving Magpie"


... de Rossini, revisto por Giulio Gianini e Emmanuelle Luzzati, cineastas de animação.
Rossini: a sensualidade e a ironia quase perfeitas de um clássico mestre [e sublime manipulador...] de sensações.

"Uma coisa bonita..."

... para lavar a alma dos seus pecados?
Para dissipar algumas das suas mais densas e desfeitas sombras, em qualquer caso...

[Imagem "gentilmente cedida" por kervoto-dot-com]

quinta-feira, 8 de abril de 2010

"Desculpem lá mas não me contenho!"


Vou digerir a azia para a cama!
Este Benfica ainda tem muito que aprender!
Oh! Coluna! Oh! Ângelo! Oh! Mário João! Oh! Zé Augusto! Então vocês foram lá com eles e não lhes ensinaram nada, pá???!!
Não se faz!!
Agora, lá vou eu para a cama com um monco de todo o tamanho!
É bonito, não é?!
[Bolas, pá: isto de ser irracional tem, por vezes, um preço que não lhes digo nada!...]

"Banshee"

"Um Hino ao Sol..."


... e à própria voz humana!
À Vida, numa palavra: "O Sole Mio" de Giovanni Capurro [letra] e Eduardo di Capua [música] na voz excelsa de Luciano Pavarotti.
[Imagem stuckincustoms-dot-com]

quarta-feira, 7 de abril de 2010

"Pão e pó: Pátria à prova de luz e de raízes---reversão"


Falemos franco oh deusa disse ao sol o abismo [abismo deusa láctea dos corpos] sem primavera sem destino destino ou fado o destino anunciou seu próprio sangue seu volume destruído [que o sangue---o sangue mesmo, piedosa mentira!---havia muito coagulara num único ser episódico e deserto preso à boca toda a noite] pelo sangue continuamente escarrado! o sangue escarranchado no sorriso concêntrico---corrigiu: "toda a sede implantada una e louca na garganta veloz desértica como uma crítica castidade cobrando continuamente juros de solidão---uma faca adormecida em vez de sombra"!... um nome anunciado um nome manchado um nome desmanchado um nome que era a sua própria única primavera... oh este olhar imenso perdido de insecto, disseste coberto pela própria juventude! o sangue que se desmancha desmorona
[funde? Dilui? Continuamente] na [com a?] memória o insecto ferida aberta da memória a morte sem som percorrendo já o labirinto álgido da voz o corpo imediato e impenitente que fala [rosa púbica "obviamente estrangeira"...] de um prazer que o corpo não soube libertar. o dia ardendo de palha de esquina em esquina era o verão que se erguia como um corcel de crimes magoados num silêncio completamente imóvel que era também a sua própria cicatriz. as suas próprias cicatrizes de pão: de pão era o diálogo sobre o pão e o pão se erguia do cérebro todo aberto à esperança brandindo a mão que o tingia de formas e odores as veias/folhas os músculos da côdea a solidão diálogo e palidez pó e pedras: o medo a rampa intacta de tristeza o ocasional grito inútil do perder-se. Era à tarde: o sol, preso ao papel onde morria,l entamente iniciava a viagem intensamente pálida do ritmo: ar água mar mágoa lar frágua---a paisagem a toda a prova! o grupo quase ilimitado dos ruídos prorrompendo o desespero intenso do voo preso ao vento descrevendo círculos de pura opala na espuma álgida da brisa primaveril. Os cabelos brancos da aurora completamente desfraldada desfolhada luz a luz pela mão sábia do silêncio: silêncio vocação do peito prisioneiroo corpo rouco de sentir em vão abrindo maduro na espuma de um espelho incessante que bate!


Ah! Voltou a pátria à pátria
de uma só primavera


oh saudade: devias estar em casa, de novo, oh saudade!


[Na imagem: "Prometheus Unbound", colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]

sábado, 3 de abril de 2010

"Do Meu Obituário Pessoal"


Morreu John Forsythe.

Não foi, todavia, para mim, a única morte que teve lugar hoje: outras se lhe seguiram muito mais íntimas, compactas, 'integralmente desprovidas de folhas', mortalmente pálidas, completamente irreparáveis, definitivas---e sempre desesperadamente inacessíveis, para mim próprio, todas elas...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

"Hai ku"

A pedler he is
of a golden where:
There's got to be
an it's got to be

somewhere.

[Na imagem: "O Tópico Utópico", colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]

quinta-feira, 1 de abril de 2010

"Le Visiteur du Soir"

"Noite Esperança Dos Vivos [Reescrita de Anterior]


a noite esperança dos vivos

"dispersa [como] até aqui...

... toda a doença une-se com [o] um brusco punho de espuma
que me cinge
reconsolida
alimenta---e suspende a voz aberta
numa única dor compacta que derramo
toda inteira num vaso de leituras
e de cinza

a dor por folhas ou
praticada num pão alto
vertiginoso e doente
que não alimenta mas injecta
o remorso todo inteiro nas aves completamente líquidas de que é
a partir de hoje todo imóvel
feito o sonho e
feita a álgebra gelada do abraço

o pão a galope
o pão hermético
o pão fechado
o pão em cruz
o pão em crise
o pão em merda

e tu, dor que
ensinaste a lua ao mar
e o verão à terra;
fixaste o outono ao chão e ensinaste
a solidão à massa fundida
do sangue
ensina-me a regressar a casa
em dias de esperança
e raros ramos


demasiado
o crâneo ardido e independente
o volume da dor
o desenho da voz
o inquérito do sangue
a geometria da morte
o episódio da solidão

outra vez, o volume da tristeza
e do pânico recobrado
a golpes de vida desconhecida
à luz do mar
o leito das pedras onde corre a primavera
de regresso
ao veneno
que de esperança infecta

o olhar apodrece a liberdade
a primavera de regresso
à chuva às raizes às fezes
a cascata das canções
da noite de noite
a primavera
de regresso à noite
o patamar ferido do horizonte
o pedal do sentido
o sentido da doença
a ausência
branca memória
ávida memória
o Tempo em vez de sangue
a memória a memória

tu oh dor onde se oculta a casa inteira
ensina-me a regressar de puro vento
sangue e pão
no bolso a camisa madura
de luz
esperança de palavras
nervos por palavras
sem dizer
meu nome sem reunir meus ossos a minha vida
comprada ao silêncio
corrompida
a música o alimento dos mármores
as marmóreas paisagens
a morte a esperança até ser noite...

forma ou fome crua flor
de frágil suor oh noite
dos sentidos
devassados
conta-me de um só nó
ininterrupta toda a voz toda a história
da matéria que cegou.


Fundo e exausto concluo aqui o inventário
aberto
da saudade
dúvida o trémulo fulgor
o relâmpago sumptuoso da cabeça que crepita
de saudade
e pura espumosa
pasmosa
ignorância:

..................................................................................

não há que procurar mais
perguntar mais
querer saber mais


[de hoje em diante vou viver só de poesia/
/Em poesia]

"Raindrops Keep Falling On My Head..."


http://www.youtube.com/watch?v=FRsXHDYXafM

"Song..."


... fucking sung fucking blue!..."

[That's fucking how songs fucking have to be fucking sung sometimes---in times like fucking today!...]


[Imagem extraída com a devida vénia de posy-dot-typepad-dot-com]

Repito aqui a pergunta: que é que vale mais mais: um fim horroroso ou um horror sem fim?
Eu ainda vou pela primeira por isso, o resto da minha vida começou agora mesmo às 12.21 em ponto!...

Daqui em diante... BOOM! vai tudo raso: às vezes, é preciso uma visitinha oportuna da Morte---de uma morte qualquer [bem... de uma qualquer não, exactamentde mas pronto, da morte]---para que a Vida volte a ser, uma vez mais, possível!...

[Imagem "gentilmente cedida" por ospalhaçosdoblog-dot-blogspot-dot-com]