domingo, 28 de março de 2010

"Gaivotas de Lisboa..."


... sopro elementar, sangue aéreo triunfal
cristalina dimensão da Cidade
livremente desfraldada!
[Imagem extraída com a devida vénia de polyvore-dot-com]

"Lisboa..."


... Velha querida, amante azul e branca, meu eterno céu por anoitecer!
Não era capaz de te trocar fosse pelo que fosse!

[... e hoje, se calhar, também por quem fosse...]

"Maria..."


... já sabe! Se telefonarem para mim, "o senhor não está!"---ouviu?...

sábado, 27 de março de 2010

"E agora..."

... o silêncio: a luz curva, desfeita e prometida---o silêncio!"

[Nada como um bom silêncio para as pessoas se entenderem entre si!...]

[Na imagem "Krak de Chevaliers" na Síria, fotografia extraída com a devida vénia do blog interata-squarespace-dot-com ]

"Conselhos aos «naughtópicos»"


Republico aqui dois textos introdutórios de apresentação do "Projecto alternativo Naughtopy", recentemente iniciado.

Do mesmo se pretende que seja uma espécie de cruzamento repessoalizado de algum Luiz Pacheco com [muito!] Mário Henriques-Leiria e uns fuminhos de O' Neill, para "dar gosto".

Se Deus quiser, será isso; se Ele não quiser, será outra coisa coisa qualquer que me der na veneta---se, entretanto, não morrer.

E, também, se morrer, alguma coisa se há-de arranjar que nisto de coisas sem solução parece-me que tirando os concertos do Carreira, o ar imbecil e pomposo do Passos Coelho e o inato talento de vigarista do "outro", só a Vida continua a não a ter.
E pronto!

Posto isto, cá vai, então, o cartão-de-vista do "meu mais novo", um «rapazinho textual» [e «virtual»] que dá agora, para gáudio do pai babado [que continua a fazer filhos destes como as galinhas fazem ovos e o "pê-ésse" faz m.] os primeiros passos.

1. "Este vai ser um blog centralmente focado na reflexão sobre diversos aspectos da realidade circundante entre os quais a questão verdadeiramente fundamental da saúde nas suas várias formas.
Por isso, nada melhor do que começar com a minha própria receita para a saúde perfeita que é:
Pouca carne, inteligência nem vê-la e muito ioga moral.
É limpinho!
Ah! E convicções, só uma colher de chá ao pequeno almoço!
Experimentem e vão ver que se dão bem!"

2. Os «naughtópicos» não praticam o desporto sem grandes reservas e precauções de toda a ordem: "sport", como dizia outrora uma canção célebre a propósito desse outro autêntico perigo público para a saúde que é a liberdade nas suas diversas formas, "is a word I rarely use without thinking"...
Seja como for, há actividades desportivas que, se praticadas com moderação e critério, podem ser realizadas com evidentes vantagem para a saúde «naughtópica».
Por exemplo, no meu caso os desportos que pratico [e sempre me dei bem com eles, devo dizer...] são burrice em comprimento, estupidez em altura e, uma vez por outra, o existencialismo radical também chamado triatlo existencial, ou seja, niilismo de interior, cepticismo-leninismo e auto-flagelação tântrica.
Um programa completo que, se realizado como deve ser, poderá em muito prolongar a vida dos «naughtópicos» em pelo menos [e isto é definitivamente fazer as contas muito por baixo!] o melhor de zero anos!
Quem é amigo, quem é?...


[Na imagem: "Die Unruhige Gäste", colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]

"Exílio Perturbado"

"Renovo aqui..."


...a minha nunca negada admiração pessoal [o meu autêntico fascínio!] pela contradição e pelo paradoxo, considerando-o ambos topicamente espelhados nesse ser, a muitos títulos, deslumbrante, hipnoticamente torrencial e imensamente contraditório que foi Marlene Dietrich.

Num certo sentido particular, ela foi o rosto icónico de uma era histórica e, sobretudo, mental que terminou em 1945.

Depois dela, a História elegeu novos paradigmas, da relação entre os indivíduos às formas materiais concretas de brutalidade passando pels representações abstractas da Cultura [Beleza, Popularidade---a popularidade como forma limite de "beleza"...] enterrando os anteriores numa espécie de grande e silencioso cemitério colectivo regularmente infrequentado que é a memória histórica.

Aí está hoje Marlene.

Aí a fui buscar através de uma canção ela mesma icónica e definitiva onde a arquitectura esmagadora da orquestração engolindo implacavelmente o fio cansado, exausto, da voz humana simboliza admiravelmente todo o mortal horror das ditaduras.


http://www.youtube.com/watch?v=W7J6OPurrtw

"A Viagem de Ulisses"


terça-feira, 23 de março de 2010

segunda-feira, 22 de março de 2010

"Eu Gosto Tanto de Ti!"


Uma coisa que me apetece, por vezes, dizer e que a chegada da Primavera me veio recordar com uma urgência, apesar de tudo, inesperada...

Aqui [por um conjunto de razões que não vêm, porém, de todo, ao caso...] pedi à Lara Li e ao Anthony Quinn que, por uma vez, o dissessem por mim...


http://www.youtube.com/watch?v=ags24aXDfS8

[Imagem "gentilmente cedida" por snowflakez]

"Chegou av Primavera-I..."


"Chegou a Primavera-II..."

... e eu completamente distraído!

Bolas!...

[Ainda irei a tempo de dar-lhe as boas vindas?...]

"O Dia ..."


... Mundial da Poesia simbolicamente evocado aqui e na 'entrada' que se segue, obrigatoriamente associado à Primavera e àquela que é a sua expressão humana verdadeiramente de eleição: o Amor!

[Imagem extraída com a devida vénia de spotdapoesia-dot-blogspot-dot-com]

"Poema de Amor"

Como todos os poemas, afinal?...

domingo, 21 de março de 2010

sábado, 20 de março de 2010

"Abschied"


Muito boa noite a todos: vou fazer ó-ó que já são mais que horas...

quinta-feira, 18 de março de 2010

"Sometimes..."


...rainbows are our souls best friends...

segunda-feira, 15 de março de 2010

"Coração..."


... cabeça e estômago", como titulava Camilo, aqui numa releitura estritamente pessoal versando sobre os fundamentos biológicos da convicção e da própria espiritualidade em geral...

"Nicht wieder mehr!"


Porque eu abomino a tortura nas suas múltiplas formas---mesmo nas mais "democráticas" e "civilizadas" [ou especialmente nessas!]---tomei a liberdade de apropriar-me desta sugestiva imagem que a infatigável Márcia Cristina Hungerbühler divulgou no seu 'mural', no «Facebook» e de reproduzi-la aqui com o propósito de contribuir na medida das minhas possibilidades para evitar que certas... "surdezes", "cegueiras" e também "mudezes" que "noutros tempos" ainda não tão distantes quanto isso ajudaram [passiva mas efectivamente!] a eliminar fisicamente milhões de seres humanos como nós não tenham hoje, naquelas mais sofisticadas versões "democráticas" e "civilizadas" condições para voltarem a fazer a sua abjecta e desprezível reaparição sobre a Terra...

"Love---But Above All Respect---Mother Earth!..."


Com permissão da Márcia Cristina Hungerbühler, permito-me reproduzir aqui uma significativa imagem/mensagem por ela publicada no «Facebook» e que dispensa, de todo, palavras.

"Bibliotecas e, entre elas, a minha..."


Não é a minha de Montemor...

A minha é um pouco pior em matéria de [des] organização, confesso...

Praticamente todos os dias juro a mim mesmo que vou recatalogar tudo, digitalizar o catálogo, separar os géneros, pôr os DVDs e os videos em estantes separadas por realizadores e separadas dos livros e estes dos CDs e, todos os dias, renuncio, intimidado pela amplitude verdadeiramente homérica, ciclópica, da tarefa...

Acho, aliás, que fundo, o encanto das bibliotecas vem, em última instância, daí, do prazer, da íntima vibração de uma desordem cultivada para ser apenas nossa e onde, precisamente, todo o prazer pode florescer porque completamente livre da opressão do dever, na forma de uma ordem imposta que inevitavelmente a impediria de respirar----e a mim, também...

Delicio-me, confesso, com o ar perplexo [e invariavelmente um pouco desconfiado, também!...] do homem da luz ou da água que entra e se depara, de imediato, com estantes e estantes povoadas de velhos [e aromáticos!] "bouquins" reunidos ao longo de uma vida inteira---venezianos palavrosos e mediterrânicos, imensamente álacres e carnais, parisienses sombrios e sóbrios, castelhanos irrequietos cheirando a ervas e ao sol onde foram gerados---todos eles ali sucessivamente depostos na mais deliciosa das desordens---das "insurgências espaciais", vibrantemente a-geométricos, a única ordem que aceitam, eles e eu---uma cidade de papel e ideias onde coexistem em intermináveis e íntimas cavaqueiras às quais faço absoluta questão de regularmente comparecer [como nos antigos cafés de Lisboa onde ao serão os amigos se reuniam para celebrar a Amizade entre cigarros e bicas cumplicemente parilhados] esses inestimáveis amigos de inteligência e tinta sem os quais não saberia viver...

Ordem?

Eu tenho a minha que é também a deles---que é a nossa!---e se ma tirassem acho que, no dias seguinte, morria...

"Arrumar aquilo", dizem-me?

Mas... aquilo está arrumado!

Como as aves nos respectivos voos, as paisagens nas respectivas cores e cheiros e os rios na sua incomparável e perfeita liquidez!

"Arrumar a perfeição"!??!!

Vinha o próprio Deus em pessoa e desarrumava tudo outra vez...

Deus... ESSE sabe de que é que eu estou a falar...


[Imagem ilustrativa "gentilmente cedida" pela Livraria Casa das Letras via «Facebook»]

sábado, 13 de março de 2010

"É PRECISO AGIR!"


BULLIES CAN KILL MORE THAN BULLETS !
...AND SO CAN COWARDLY SILENCES!...

sexta-feira, 12 de março de 2010

"Rrrrrrrrrrrrrrrrrr"


Hoje, não me digam nada que eu mordo, ham?!!!!

O Glorioso, a minha "educada irracionalidade de cabeceira", eliminou-se ontem a ai próprio praticamente da Taça Europa!!

Portanto cá em casa hoje só se ouve...
RRRRRRRRRRRRRRRRRRRR!

"Quando os Humanos Falham... Vivam os Amigos Cães!!!


Eu ando a juntá-los para formar um exército, uma milícia, um "lobby"!
Depois, vamos todos com a Tanas e a Nocas à cabeça oferecer os nossos serviços à Maria Pereira e a todos os professores que andam muito compreensivelmente desanimados com os múltiplos problemas que enfrenta o Ensino hoje em Portugal...
De facto, se os humanos não ligam, por que não começar já a experimentar alternativas?...
[Um discípulo do Padre António Vieira, seguidor esperançado da sua ideia de... "sermoar" aos peixes sempre que os humanos se revelam excessiva (ou desumanamente?...) humanos...]

quinta-feira, 11 de março de 2010

"«Comédia» de Samuel Beckett, versão portuguesa de Carlos Machado Acabado"


Informa-me a Rosário d' "A Comuna" que o texto do Beckett que para lá traduzi com o título "Comédia" já está em cena e com grande sucesso.
Aleluia! Finalmente uma boa notícia!
"I could use onde, too!..."
[Na imagem: "Naughtopy", colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado]

"NÃO TRAIO!"

Envia-me a Márcia Cristina Hungenbühler um poema que eu desconhecia de José Gomes Ferreira mas que me permito republicar aqui com particular emoção [e intenção!] numa altura em que a Grécia [a pátria da democracia ocidental, não o esqueçamos!] nos dá novo exemplo de insubmissão cívica e lucidez política ao vir para a rua questionar o tipo de "solução" [mais uma vez!] encontrada pelo capitalismo internacional através dos seus Fundos Monetários, "Europas" e quejandos para a "solução" de problemas criados precisamente pela sua inqualificável gestão da coisa coisa pública nos vários países onde os temos deixado operar à vontade, delapidando levianamente riquezas e esperanças, malbaratando, de forma criminosamente irresponsável e globalmente suicidária, qualquer perspectiva de futuro minimamente consistente e justo para todos nós.
Ensinam-nos os gregos que é preciso vir para a rua mas vir para a rua a sério, lutar por uma nova ordem cívica, económica e política, sem "Europas" de cartão feitas em segredo---uma ordem em que as pessoas contem mais do que as contas bancárias de meia-dúzia de corruptos travestidos de empresários e políticos e a segurança dos cidadãos não seja regularmente jogada aos dados nos conselhos de administração das multinacionais ou na caixa forte de bancos sem lei e sem escrúpulos.

Não Traio

(boca cerrada de raiva)

Não traio.
Porque insistes?
Não traio.
Desde criança que meu Pai me ensinou
não haver tempestade
na terra ou nos céus
que não traga
a praga
de um falso herói
salvador da Cidade.

Ou a esperança de um semideus
com um raio
na Mão
que tudo destrói
para pintar depois o sol e o Chão
de outra realidade.

Mas nunca encontrarás traidores entre os que sempre como eu sonhamos combustões

de novas flores
com pétalas de asas de liberdade
que só nascem e crescem regadas pelos gritos e lágrimas
das multidões.

Povo, continua!

Não pares a tua tempestade.


José Gomes Ferreira

segunda-feira, 8 de março de 2010

"Eric Bogle's Childhood Hero..."


... the man who just shot pistols out of Evil's hands and sang his way all the way to justice-making!

Ladies and gentlemen, Mr. Roy Rogers himself, the one and only, Eric Bogles' "pre-modern" non-violent hero in his captivating tribute to childhood innocence, "Front Row Cowboy", which you boys asnd girls should be busy listening to in this precise moment instead of listening to stupid speeches about sending more troops to Afganistan or supporting inept and corrupt leaders in Iraq!

sábado, 6 de março de 2010

"Zeitgeist"


"Morrer É Um Acto De Cultura?"


Colagem sobre papel de Carlos Machado Acabado

sexta-feira, 5 de março de 2010

"'Bora Lá?..."


Já dizia o O' Neill que "As Andorinhas Não Têm Restaurante".

Pois não.

E há, claro, o caso das gaivotas que se estão, pura e simplesmente marimbando para as proibições que os humanos se lembram de escogitar, ás vezes, só para tornar a sua própria vida uma chatice inimaginavelmente indigesta...

Ocorreu-me, agora, de repente, uma coisa: "'Bora lá todos ser gaivota?"

[Vá lá: um bocadinho de imaginação e de fantasia nunca fizeram mal a quem que fosse?...]


[Imagem "gentilmente cedida" por psyte-dot-uol-dot-com]

"Estômagos, não é?..."


No dia seguinte àquele em que a martirizada classe média [não confundir com "nédia", a classe "nédia" mora dois ou três andares mais acima, em casa do senhor Pinto de Sousa, "pê-ésse" para os amigos...] portuguesa veio para a rua, tentar arranjar um espacinho qualquer para respirar, na pessoa ou pessoas de uma função pública social, económica e profissionalmente sempre a jeito para levar a "porrada" que, vinda de cima, de há um tempo para cá, nunca tem faltado à classe média em Portugal, o "Público", excepcionalmente [vá lá! Do mal o menos...] dirigido por António Barreto inclui uma entrevista com Mário Soares [é verdade! Sabiam que parece que há uma sequela do seu "Portugal Amordaçado" escrito por Rui Mateus e intitulada... "Portugal AMERDAÇADO"? Eu nunca li mas parece que há ] e faz-se, "par dessus le marché", acompanhar, sem qualquer aumento de preço ou encargos, de uma brochura profusamente ilustrada dedicada à queda do muro de Berlim.

Antigamente, nas famigeradas "Actualidades Francesas", dizia-se, invariavelmente com o ar mais sério deste mundo [ou do "outro"...] "Assim vai o mundo".

Pois é... assim vai o mundo.

..................................................................................


António Barreto?...

Talvez---mas gosto mais de carapaus fritos com salada e pataniscas com arroz de feijão.

Digiro melhor e o risco de regorgitar não é tão grande: a gente tem sempre de pensar na saúde, [coisa que, dizem alguns clínicos mais... conhecedores, começa na barriguinha e, para alguns, até acaba nela, também, mas enfim...]

Afinal de contas, se não formos nós a pensar em nós, quem há-de ser, não é?...

Bruuuuxo!


[Imagem "gentilmente cedida" por arte_politica-dot-unesp-dot-com]

"Eric Bogle"


... Eric Bogle.

Ouvir a homenagem que presta ao desaparecimento Mãe num espantoso "Since Nancy Died" constitui ["I thought I would never stop dying"] uma experiência absolutamente arrasadora, ao nível do melhor e poeticamente mais conseguido Dylan, do melhor e textualmente mais impressivo Seeger, do melhor e poeticamente mais brilhante---e sempre caracteristicamente humanista---Zeca Afonso.

quinta-feira, 4 de março de 2010

"Gaza, Um Gigantesco Campo de Concentração e Extermínio À Escala Regional" [Texto de Lejeune Mirhan]

I

O mundo acompanhou o massacre que Israel perpetrou contra os palestinianos residentes na Faixa de Gaza entre Dezembro de 2008 e Janeiro de 2009.

Num dos meus próximos livros, que estou para lançar, tratarei sobre isso em extensa pesquisa de artigos selecionados sobre o tema.

A pesquisa mostra que os problemas enfrentados pelos palestinianos residentes na região se vão avolumando e hoje se vive um verdadeiro caos.

A esse tema dedicaremos a coluna desta semana.

A Pequenina Faxia de Gaza, cercada por Israel e pelo Egipto luta para sobreviver.

Como é possível viver assim?

Aos poucos, a grande imprensa vai divulgando, em estilo conta-gotas, a precária situação em que vivem os quase um milhão e meio de palestinos dessa estreita Faixa de terra, encravada com a fronteira com o Egito, Israel e o Mar Mediterrâneo.

Não bastasse o cerco nas fronteiras com Israel, que agora impede a entrada de alimentos, materiais de construção e remédios enviados pelo mundo inteiro, também o Egito fecha a fronteira e agora constroi mais um muro segregacionista entre vários existentes no mundo.

A pesquisadora Sara Roy esteve em Agosto do ano passado na Faixa.

Fez extensa matéria que foi publicada no jornal inglês "The Nation".

A autora pertence ao Centro de Estudos do Médio Oriente, da Universidade de Harvard, considerada a melhor Universidade do mundo. É especialista no Médio Oriente.

O seu último livro, sem tradução ainda para o português, é "Hamas and Social Islam in Palestine", publicado pela Princeton University Press.

Eu acompanho muitos de seus artigos e um deles inspirou o título do meu próximo livro: “E se Gaza cair....

Antes de entrar propriamente nos dados e comentários, gostaria de dar um pequeno histórico do cerco que Gaza vive desde a vitória do Hamas em janeiro de 2006.

Em Janeiro de 2009 completaram-se quatro anos da vitória do Hamas, como partido político que obteve mais de 50% dos votos nas primeiras e mais limpas eleições–segundo observadores internacionais – já realizadas na Palestina.

Ocorre que a partir desse momento, quando o Hamas começou a formar o governo da Autoridade Palestiniana, os boicotes iniciaram-se.

As verbas de ajuda humanitárias foram cortadas.

Israel iniciou o cerco e o asfixiamento das fronteiras de Gaza.

Várias medidas brutais e anti-democráticas foram tomadas visando enfraquecer a moral do povo palestiniano.

Até taxas e impostos que Israel arrecada no sistema bancário foram retidas e confiscadas e não eram devolvidas ao governo palestiniano.

Segundo Israel, os Estados Unidos e os países europeus, o governo do Hamas era “terrorista” (sic).

Praticamente todas as possibilidades de palestinianos trabalharem diariamente em Israel foram interrompidas com as proibições de trânsito nas fronteiras.

Repetiram-se os bombardeamentos visando destruir a pequena infra-estrutura da região: assim foram sistematicamente atacados edifícios públicos [ministérios, escolas, etc.]

Iniciou-se o racionamento de combustíveis, electricidade e mesmo da água.

Tudo isso já a partir de 2006.

Em 19 de setembro de 2007, Israel declara a Faixa de Gaza como “entidade inimiga” (sic) e amplia o cerco e o boicote econômico, na tentativa de aniquilar um povo lutador e resistente. O objectivo era o de “controlar a organização terrorista” (sic).

Novas e ainda mais duras sanções foram impostas, banindo todo e qualquer comércio nas fronteiras oficiais.

Agravaram-se os problemas humanitários.

Tudo fora proibido em termos de atividades económicas.

Importações e exportações foram praticamente reduzidas a zero.

Surge assim a economia ainda mais informal, a chamada economia dos “túneis”, ou seja, um comércio do mercado paralelo, chamado de mercado negro, bem mais caro, que passa pelas centenas de túneis já existentes, mas que foram, entretanto, ampliados.

Dito isto, quero compartilhar com os meus leitores, as principais passagens do excelente trabalho de Sara Roy, fruto de uma de suas últimas visitas à Gaza em Agosto de 2009.

O que me impressiona, entre as várias passagens do seu brilhante artigo [cuja leitura integral recomendo] conclui que Gaza é hoje o único lugar do mundo onde “miséria e sobrevivência se confundem e onde a caridade é um bom negócio”.

Mas, vamos às informações comentadas.

Em 2009, entraram em Gaza apenas e somente 41 camiões com ajuda humanitária vinda da ONU e de alguns países individualmente.

Segundo a Amnistia Internacional, seriam necessários 55 mil camiões carregados com alimentos, medicamentos e materiais de construção para reconstruir a região quase destruída.

Em agosto de 2009, 90% da população vivia sob racionamento de energia elétrica de até oito horas diárias e os restantes 10% sem nenhuma eletricidade;

Até 95% dos 3.750 dos estabelecimentos industriais existentes em Gaza foram ou destruídos ou foram forçados a parar a sua produção, nesses quatro anos.

Isso acarretou, segundo estimativas da OIT, a perda de até 120 mil postos de trabalho. As 5% restantes empresas industriais funcionam muito precariamente, com até metade de sua capacidade.

A agricultura foi devastada.

Dados da ANP, indicam que houve nos bombardeamentos de Dezembro de 2008 e Janeiro de 2009, a destruição de mais de 140 mil pés de oliveira, mais de 135 mil limoeiros, mais de 22 mil outras árvores frutíferas, 10 mil tamareiras e milhares de outras árvores, diminuindo drasticamente a área verde da região;

As terras antes irrigadas, ficaram completamente secas e o subsolo está completamente contaminado, tornando a agricultura inviável, as terras ficaram inférteis.
Há um esgotamento generalizado do solos.

O colapso da agricultura é total.
A economia, profundamente abalada, depende quase que exclusivamente do sector público e das organizações de ajuda humanitária internacional.

Paradoxalmente, o que a move ainda hoje é o contrabando de bens de primeira necessidade que entram pelos túneis da fronteira com o Egito [que Mubarak, com a ajuda do exército americano, esta tentando acabar com recurso ao famigerado muro que vem sendo construído].

Estima-se que dois terços da economia sejam hoje movidos pelo contrabando;

O próprio Banco Mundial vem constatando, pelos dados estatísticos, uma transferência de renda e riqueza da população, em geral, para as pessoas que dominam esse sector do mercado negro.

Deixou já praticamente de haver um sistema bancário em Gaza.

Mesmo os bancos israelitas que operavam na região, deixaram de fazê-lo.

A economia dos túneis acabou por gerar um efeito altamente nefasto na já combalida economia palestiniana.

O comércio oficial, formal, estabelecido, encontra-se ou profundamente debilitado ou fechou as portas, cedendo lugar à informalidade e ao contrabando.

Os preços dispararam.

II

Segundo a análise de Sara Roy, deste quadro, emergiram, por assim dizer, duas “classes sociais” com força e poder nessa sociedade miserável.

Uma, de funcionários públicos que conseguem manter um certo rendimento mensal garantido (ainda que nem sempre trabalhem, pois há uma divisão na ANP hoje) e outra a dos que comandam a economia do contrabando, que enriquecem a cada dia, mesmo sem produzir nada, apenas intermediando os negócios.

Praticamente cessaram as atividades econômicas na região.

Surgiu, assim, aquilo a que os economistas vêm chamando um “consumo do desespero”, que atinge ricos e pobres, claro, ainda que afectando muito mais os mais pobres dessa sociedade.

É o desespero para garantir o mínimo de sobrevivência para as suas famílias.

O desemprego, em dados oficiais, atinge, em termos gerais, 31,6%, mas na cidade de Khan Younis chega a 44,1%.

A Câmara de Comércio da Palestina estima que os números correctos ultrapassem a casa dos 65% da população economicamente ativa.

Estima-se que pelo menos 75% dos 1,5 milhão de palestinianos que vivem em Gaza dependem directamente da ajuda humanitária para suprir as suas necessidades básicas de sobrevivência.

Essa percentagem, há dez anos, não ulttrapassava os 30% da população.

Relatórios oficiais da ONU atestam que o número de vítimas de fome, que não conseguem o mínimo recomendado para a sua alimentação diária, já chega a 300 mil pessoas, ou seja, cerca de 20% da população, isto é, o triplo do que existia há alguns anos.

Israel nunca permite que os palestinianos recebam mais do que 25% de todas as suas necessidades diárias de alimentos, por cargas que passam pelas suas fronteiras. Alguns dizem que esse índice às vezes cai para 16%.

No mês de Janeiro passado, entraram em média 24 caminhões por dia na Faixa.

Como as estimativas da ONU é de que seriam necessários pelo menos 400 camiões ao dia, constatamos que apenas 6% de todos os suprimentos diários chegam aos palestinos todos os dias.

Segundo a Federação das Indústrias da Palestina, seriam necessários 240 mil camiões de suprimentos por ano para o que eles vêm chamando de “esforços pela reconstrução”.

As causas da mortalidade infantil, que vem aumentando, depois dos ataques e dos bombardeamentos, passaram a ser, além das mais comuns como subnutrição, diarreia, também o que se chama de “prematuridade”, baixo peso e má formação congênita.

O aquífero de Gaza é quase que inteiramente impróprio para o consumo humano.

Praticamente todos esses depósitos de água estão contaminados por nitratos, em quantidade muito superiores ás recomendadas para o consumo humano pela ONU e pela OMS. Chegam, em alguns casos, até a seis vezes acima do permitido.

E onde não estão contaminadas, as águas são salobras, impróprias para o consumo.

Já não há praticamente fonte alguma limpa de água em Gaza hoje.
O número de crianças até cinco anos afectadas pela desnutrição crónica subiu de 8,2% para 13,2%.

Como diz um dos autores do relatório Goldstone, que condenou Israel por crimes de guerra, se as coisas continuarem como estão, Gaza em breve, será decretada pela ONU como uma zonanão habitávelpelos padrões da Organização Mundial.

Trata-se de um verdadeiro genocídio, mesmo quando não se dispara um único tiro contra a população indefesa.

Sara testemunhou nas ruas a existência de um quadro arrepiante que corresponde, porém, ponto por ponto à pura realidade.

O mundo só se lembra desse povo sofredor quando a sua população é impiedosamente bombardeada pela aviação israelita.

Assim, o paradoxo é que a esperança de alguma “melhora” só ocorreu quando foram atacados...

Depois disso, o mundo vira as costas e os palestinianos são esquecidos.

Mas o que é pior, na conclusão de Sara, é a tentativa de divisão desse povo e da sua liderança.

Duas entidades, duas instituições, duas lideranças vêm se continuadamente consolidando.

Uma do Hamas, que actua na Faixa de Gaza, e outra na Cisjordânia, da AP, ligada ao Fatah.

Essa é a táctica dos inimigos do povo palestiniano hoje: a um dos lado, oferecem-se mais ajudas, alguma relativa prodigalidade, apoio e reconhecimento.

O outro, o do Hamas, é condenado à miséria, às privações e tudo é criminalizado.

Isso tem feito até de certa forma surgir uma mudança de posição da comunidade internacional, quase que apoiando mesmo um novo processo de colonização da Palestina, de legitimação das ocupações das poucas e últimas terras que ainda restaram em mãos palestinas.

Não podemos aceitar essa separação de Gaza da Cisjordânia, nem essa divisão entre esse povo.

É preciso resistir.

Os palestinianos resistirão.

E nós apoiá-los-emos.

Lejeune Mirhan [enviado via «Facebook» por Márcia Cristina Hungenbühler.

Nota: o título do post é da exclusiva responsabilidade do titular do blogue]

quarta-feira, 3 de março de 2010

"Hitchcock's Blonde Angels Revisited"

"«Rio Bravo» de Howard Hawks"


Imagem de Ricky Nelson ['Ryan/Colorado', em "Rio Bravo" de Hawks] de um dos mais perfeitos... imperfeitos filmes alguma vez realizados que conheço.

Se me pedissem que sintetizasse todo o "western" e, num certo sentido, todo o cinema e até toda a ficção num único filme ou livro, eu acabaria invariavelmente por escolhê-lo [numa opção que assumo como deliberadamente provocatória mas, em caso algum, gratuita] com esse objectivo.

Está lá tudo: a realidade como é mas, de igual modo, aquilo que falta em tantos outros filmes, livros ou quadros conhecidos: a realidade como aquilo que ela devia ser.

Uma das coisas verdadeiramente fascinantes nele é que corporiza o sonho de qualquer cultura---e mesmo de qualquer homem individualmente considerado: recontar o mito da expulsão do paraíso---o motivo fundador da queda---rigorosaamente ao contrário, isto é, do fim para o princípio, começando pelo castigo mas detendo-se no preciso momento anterior ao instante fatal da emergência da Culpa, esse instante decisivo em que a opção e, de um mais lato, a liberdade são ainda possíveis e todo o real se encontra ao alcance da vontade e do desejo, dócil e pronto a obedecer-lhe sem hesitar .

Sinceramente acho que um dos grandes segredos do fascínio que "Rio Bravo" sempre exerceu sobre mim [revi-o até hoje um número literalmente inquantificável de vezes] reside precisamente aí, no modo verdadeiramente genial como consagra o ideal da liberdade perfeita, o triunfo e o poder triunfal do desejo sobre tudo quanto pode condicioná-lo, limitá-lo e, em última análise, negá-lo e até reprimi-lo.
É, nesse sentido, um dos filmes mais sensuais e mesmo mais "escandalosamente" eróticos que conheço...

"Joan Baez"


Tenho este poster encaixilhado na minha biblioteca. Pu-lo no sítio onde se encontra de modo a que, em qualquer momento em que levante os olhos da leitura ou da escrita, dê imediatamente com ele.

É, também, uma das primeiras coisas que o meu olhar encontra quando, de manhã, lá entro.

Substitui, para mim, o sol nos dias em que o não há...

terça-feira, 2 de março de 2010

"Nossa Senhora Tem um Segredo: o Célebre Mas Até Agora Ciosamente Escondido 'Quarto Segredo de Fátima..."


... e um sonho que nunca tinha divulgado antes nas várias entrevistas que deu: ter uma moto de alta cilindrada que lhe permitisse ir a Roma ver o Papa de quem é, como a Dra. Maria Barroso amiga pessoal e parceira de bridge.

"A Oeste de Zanzibar" divulga a propósito este raro instantâneo mostrando a piedosa senhora diante de uma montra, na baixa, contemplando com o desvanecimento que a imagem mostra o objecto dos seus sonhos que, todavia, o marido, José, se recusa terminantemente a deixá-la adquirir, receoso dos riscos para a estabilidade da própria igreja que poderiam advir de um qualquer inoportuno acidente...

Até quando, Senhor, perguntamos nós, a prevalência de tão descarado e autoritário marialvismo vindo do próprio seio da ortodoxia?...

Será que não se pode fazer nada a propósito---"dar um jeitinho" discreto na "coisa" sem ferir melindres ou susceptibilidades, oh Deus?...

segunda-feira, 1 de março de 2010

"As in Good Theatres All Over The World..."


Vou ali fumar um cigarrinho ["fare una bella fumattina", como o Calimero...] e já volto!

[Guardem-me o lugar, ham?...]

"Cinema: Reality Through The Looking-Glass"



"Man as man's own ghost or solitude, man's ultimate mirror."