quarta-feira, 3 de março de 2010

"«Rio Bravo» de Howard Hawks"


Imagem de Ricky Nelson ['Ryan/Colorado', em "Rio Bravo" de Hawks] de um dos mais perfeitos... imperfeitos filmes alguma vez realizados que conheço.

Se me pedissem que sintetizasse todo o "western" e, num certo sentido, todo o cinema e até toda a ficção num único filme ou livro, eu acabaria invariavelmente por escolhê-lo [numa opção que assumo como deliberadamente provocatória mas, em caso algum, gratuita] com esse objectivo.

Está lá tudo: a realidade como é mas, de igual modo, aquilo que falta em tantos outros filmes, livros ou quadros conhecidos: a realidade como aquilo que ela devia ser.

Uma das coisas verdadeiramente fascinantes nele é que corporiza o sonho de qualquer cultura---e mesmo de qualquer homem individualmente considerado: recontar o mito da expulsão do paraíso---o motivo fundador da queda---rigorosaamente ao contrário, isto é, do fim para o princípio, começando pelo castigo mas detendo-se no preciso momento anterior ao instante fatal da emergência da Culpa, esse instante decisivo em que a opção e, de um mais lato, a liberdade são ainda possíveis e todo o real se encontra ao alcance da vontade e do desejo, dócil e pronto a obedecer-lhe sem hesitar .

Sinceramente acho que um dos grandes segredos do fascínio que "Rio Bravo" sempre exerceu sobre mim [revi-o até hoje um número literalmente inquantificável de vezes] reside precisamente aí, no modo verdadeiramente genial como consagra o ideal da liberdade perfeita, o triunfo e o poder triunfal do desejo sobre tudo quanto pode condicioná-lo, limitá-lo e, em última análise, negá-lo e até reprimi-lo.
É, nesse sentido, um dos filmes mais sensuais e mesmo mais "escandalosamente" eróticos que conheço...

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