quinta-feira, 4 de março de 2010

"Gaza, Um Gigantesco Campo de Concentração e Extermínio À Escala Regional" [Texto de Lejeune Mirhan]

I

O mundo acompanhou o massacre que Israel perpetrou contra os palestinianos residentes na Faixa de Gaza entre Dezembro de 2008 e Janeiro de 2009.

Num dos meus próximos livros, que estou para lançar, tratarei sobre isso em extensa pesquisa de artigos selecionados sobre o tema.

A pesquisa mostra que os problemas enfrentados pelos palestinianos residentes na região se vão avolumando e hoje se vive um verdadeiro caos.

A esse tema dedicaremos a coluna desta semana.

A Pequenina Faxia de Gaza, cercada por Israel e pelo Egipto luta para sobreviver.

Como é possível viver assim?

Aos poucos, a grande imprensa vai divulgando, em estilo conta-gotas, a precária situação em que vivem os quase um milhão e meio de palestinos dessa estreita Faixa de terra, encravada com a fronteira com o Egito, Israel e o Mar Mediterrâneo.

Não bastasse o cerco nas fronteiras com Israel, que agora impede a entrada de alimentos, materiais de construção e remédios enviados pelo mundo inteiro, também o Egito fecha a fronteira e agora constroi mais um muro segregacionista entre vários existentes no mundo.

A pesquisadora Sara Roy esteve em Agosto do ano passado na Faixa.

Fez extensa matéria que foi publicada no jornal inglês "The Nation".

A autora pertence ao Centro de Estudos do Médio Oriente, da Universidade de Harvard, considerada a melhor Universidade do mundo. É especialista no Médio Oriente.

O seu último livro, sem tradução ainda para o português, é "Hamas and Social Islam in Palestine", publicado pela Princeton University Press.

Eu acompanho muitos de seus artigos e um deles inspirou o título do meu próximo livro: “E se Gaza cair....

Antes de entrar propriamente nos dados e comentários, gostaria de dar um pequeno histórico do cerco que Gaza vive desde a vitória do Hamas em janeiro de 2006.

Em Janeiro de 2009 completaram-se quatro anos da vitória do Hamas, como partido político que obteve mais de 50% dos votos nas primeiras e mais limpas eleições–segundo observadores internacionais – já realizadas na Palestina.

Ocorre que a partir desse momento, quando o Hamas começou a formar o governo da Autoridade Palestiniana, os boicotes iniciaram-se.

As verbas de ajuda humanitárias foram cortadas.

Israel iniciou o cerco e o asfixiamento das fronteiras de Gaza.

Várias medidas brutais e anti-democráticas foram tomadas visando enfraquecer a moral do povo palestiniano.

Até taxas e impostos que Israel arrecada no sistema bancário foram retidas e confiscadas e não eram devolvidas ao governo palestiniano.

Segundo Israel, os Estados Unidos e os países europeus, o governo do Hamas era “terrorista” (sic).

Praticamente todas as possibilidades de palestinianos trabalharem diariamente em Israel foram interrompidas com as proibições de trânsito nas fronteiras.

Repetiram-se os bombardeamentos visando destruir a pequena infra-estrutura da região: assim foram sistematicamente atacados edifícios públicos [ministérios, escolas, etc.]

Iniciou-se o racionamento de combustíveis, electricidade e mesmo da água.

Tudo isso já a partir de 2006.

Em 19 de setembro de 2007, Israel declara a Faixa de Gaza como “entidade inimiga” (sic) e amplia o cerco e o boicote econômico, na tentativa de aniquilar um povo lutador e resistente. O objectivo era o de “controlar a organização terrorista” (sic).

Novas e ainda mais duras sanções foram impostas, banindo todo e qualquer comércio nas fronteiras oficiais.

Agravaram-se os problemas humanitários.

Tudo fora proibido em termos de atividades económicas.

Importações e exportações foram praticamente reduzidas a zero.

Surge assim a economia ainda mais informal, a chamada economia dos “túneis”, ou seja, um comércio do mercado paralelo, chamado de mercado negro, bem mais caro, que passa pelas centenas de túneis já existentes, mas que foram, entretanto, ampliados.

Dito isto, quero compartilhar com os meus leitores, as principais passagens do excelente trabalho de Sara Roy, fruto de uma de suas últimas visitas à Gaza em Agosto de 2009.

O que me impressiona, entre as várias passagens do seu brilhante artigo [cuja leitura integral recomendo] conclui que Gaza é hoje o único lugar do mundo onde “miséria e sobrevivência se confundem e onde a caridade é um bom negócio”.

Mas, vamos às informações comentadas.

Em 2009, entraram em Gaza apenas e somente 41 camiões com ajuda humanitária vinda da ONU e de alguns países individualmente.

Segundo a Amnistia Internacional, seriam necessários 55 mil camiões carregados com alimentos, medicamentos e materiais de construção para reconstruir a região quase destruída.

Em agosto de 2009, 90% da população vivia sob racionamento de energia elétrica de até oito horas diárias e os restantes 10% sem nenhuma eletricidade;

Até 95% dos 3.750 dos estabelecimentos industriais existentes em Gaza foram ou destruídos ou foram forçados a parar a sua produção, nesses quatro anos.

Isso acarretou, segundo estimativas da OIT, a perda de até 120 mil postos de trabalho. As 5% restantes empresas industriais funcionam muito precariamente, com até metade de sua capacidade.

A agricultura foi devastada.

Dados da ANP, indicam que houve nos bombardeamentos de Dezembro de 2008 e Janeiro de 2009, a destruição de mais de 140 mil pés de oliveira, mais de 135 mil limoeiros, mais de 22 mil outras árvores frutíferas, 10 mil tamareiras e milhares de outras árvores, diminuindo drasticamente a área verde da região;

As terras antes irrigadas, ficaram completamente secas e o subsolo está completamente contaminado, tornando a agricultura inviável, as terras ficaram inférteis.
Há um esgotamento generalizado do solos.

O colapso da agricultura é total.
A economia, profundamente abalada, depende quase que exclusivamente do sector público e das organizações de ajuda humanitária internacional.

Paradoxalmente, o que a move ainda hoje é o contrabando de bens de primeira necessidade que entram pelos túneis da fronteira com o Egito [que Mubarak, com a ajuda do exército americano, esta tentando acabar com recurso ao famigerado muro que vem sendo construído].

Estima-se que dois terços da economia sejam hoje movidos pelo contrabando;

O próprio Banco Mundial vem constatando, pelos dados estatísticos, uma transferência de renda e riqueza da população, em geral, para as pessoas que dominam esse sector do mercado negro.

Deixou já praticamente de haver um sistema bancário em Gaza.

Mesmo os bancos israelitas que operavam na região, deixaram de fazê-lo.

A economia dos túneis acabou por gerar um efeito altamente nefasto na já combalida economia palestiniana.

O comércio oficial, formal, estabelecido, encontra-se ou profundamente debilitado ou fechou as portas, cedendo lugar à informalidade e ao contrabando.

Os preços dispararam.

II

Segundo a análise de Sara Roy, deste quadro, emergiram, por assim dizer, duas “classes sociais” com força e poder nessa sociedade miserável.

Uma, de funcionários públicos que conseguem manter um certo rendimento mensal garantido (ainda que nem sempre trabalhem, pois há uma divisão na ANP hoje) e outra a dos que comandam a economia do contrabando, que enriquecem a cada dia, mesmo sem produzir nada, apenas intermediando os negócios.

Praticamente cessaram as atividades econômicas na região.

Surgiu, assim, aquilo a que os economistas vêm chamando um “consumo do desespero”, que atinge ricos e pobres, claro, ainda que afectando muito mais os mais pobres dessa sociedade.

É o desespero para garantir o mínimo de sobrevivência para as suas famílias.

O desemprego, em dados oficiais, atinge, em termos gerais, 31,6%, mas na cidade de Khan Younis chega a 44,1%.

A Câmara de Comércio da Palestina estima que os números correctos ultrapassem a casa dos 65% da população economicamente ativa.

Estima-se que pelo menos 75% dos 1,5 milhão de palestinianos que vivem em Gaza dependem directamente da ajuda humanitária para suprir as suas necessidades básicas de sobrevivência.

Essa percentagem, há dez anos, não ulttrapassava os 30% da população.

Relatórios oficiais da ONU atestam que o número de vítimas de fome, que não conseguem o mínimo recomendado para a sua alimentação diária, já chega a 300 mil pessoas, ou seja, cerca de 20% da população, isto é, o triplo do que existia há alguns anos.

Israel nunca permite que os palestinianos recebam mais do que 25% de todas as suas necessidades diárias de alimentos, por cargas que passam pelas suas fronteiras. Alguns dizem que esse índice às vezes cai para 16%.

No mês de Janeiro passado, entraram em média 24 caminhões por dia na Faixa.

Como as estimativas da ONU é de que seriam necessários pelo menos 400 camiões ao dia, constatamos que apenas 6% de todos os suprimentos diários chegam aos palestinos todos os dias.

Segundo a Federação das Indústrias da Palestina, seriam necessários 240 mil camiões de suprimentos por ano para o que eles vêm chamando de “esforços pela reconstrução”.

As causas da mortalidade infantil, que vem aumentando, depois dos ataques e dos bombardeamentos, passaram a ser, além das mais comuns como subnutrição, diarreia, também o que se chama de “prematuridade”, baixo peso e má formação congênita.

O aquífero de Gaza é quase que inteiramente impróprio para o consumo humano.

Praticamente todos esses depósitos de água estão contaminados por nitratos, em quantidade muito superiores ás recomendadas para o consumo humano pela ONU e pela OMS. Chegam, em alguns casos, até a seis vezes acima do permitido.

E onde não estão contaminadas, as águas são salobras, impróprias para o consumo.

Já não há praticamente fonte alguma limpa de água em Gaza hoje.
O número de crianças até cinco anos afectadas pela desnutrição crónica subiu de 8,2% para 13,2%.

Como diz um dos autores do relatório Goldstone, que condenou Israel por crimes de guerra, se as coisas continuarem como estão, Gaza em breve, será decretada pela ONU como uma zonanão habitávelpelos padrões da Organização Mundial.

Trata-se de um verdadeiro genocídio, mesmo quando não se dispara um único tiro contra a população indefesa.

Sara testemunhou nas ruas a existência de um quadro arrepiante que corresponde, porém, ponto por ponto à pura realidade.

O mundo só se lembra desse povo sofredor quando a sua população é impiedosamente bombardeada pela aviação israelita.

Assim, o paradoxo é que a esperança de alguma “melhora” só ocorreu quando foram atacados...

Depois disso, o mundo vira as costas e os palestinianos são esquecidos.

Mas o que é pior, na conclusão de Sara, é a tentativa de divisão desse povo e da sua liderança.

Duas entidades, duas instituições, duas lideranças vêm se continuadamente consolidando.

Uma do Hamas, que actua na Faixa de Gaza, e outra na Cisjordânia, da AP, ligada ao Fatah.

Essa é a táctica dos inimigos do povo palestiniano hoje: a um dos lado, oferecem-se mais ajudas, alguma relativa prodigalidade, apoio e reconhecimento.

O outro, o do Hamas, é condenado à miséria, às privações e tudo é criminalizado.

Isso tem feito até de certa forma surgir uma mudança de posição da comunidade internacional, quase que apoiando mesmo um novo processo de colonização da Palestina, de legitimação das ocupações das poucas e últimas terras que ainda restaram em mãos palestinas.

Não podemos aceitar essa separação de Gaza da Cisjordânia, nem essa divisão entre esse povo.

É preciso resistir.

Os palestinianos resistirão.

E nós apoiá-los-emos.

Lejeune Mirhan [enviado via «Facebook» por Márcia Cristina Hungenbühler.

Nota: o título do post é da exclusiva responsabilidade do titular do blogue]

1 comentário:

  1. VENHA AO NOSSO BLOG APREENDAM A VERDADE E SEJAM FORTES. NÃO ADIANTA BRIGAR COM AS OPERÁRIAS, O PROBLEMA É A RAINHA. DESFAÇAM JEOVÁ, POIS É ELE A CAUSA DE TODO ESTE MAL. E NÃO ESTAS POBRES ALMAS ESCRAVISADAS. MOSTREM A MALDADE DE SUA DIVINDADE, E O SENHOR JESUS CRISTO VOS UNIRÁ EM UM SÓ CORAÇÃO FRATERNO E UNIDO ETERNAMENTE.

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