quinta-feira, 1 de abril de 2010

"Noite Esperança Dos Vivos [Reescrita de Anterior]


a noite esperança dos vivos

"dispersa [como] até aqui...

... toda a doença une-se com [o] um brusco punho de espuma
que me cinge
reconsolida
alimenta---e suspende a voz aberta
numa única dor compacta que derramo
toda inteira num vaso de leituras
e de cinza

a dor por folhas ou
praticada num pão alto
vertiginoso e doente
que não alimenta mas injecta
o remorso todo inteiro nas aves completamente líquidas de que é
a partir de hoje todo imóvel
feito o sonho e
feita a álgebra gelada do abraço

o pão a galope
o pão hermético
o pão fechado
o pão em cruz
o pão em crise
o pão em merda

e tu, dor que
ensinaste a lua ao mar
e o verão à terra;
fixaste o outono ao chão e ensinaste
a solidão à massa fundida
do sangue
ensina-me a regressar a casa
em dias de esperança
e raros ramos


demasiado
o crâneo ardido e independente
o volume da dor
o desenho da voz
o inquérito do sangue
a geometria da morte
o episódio da solidão

outra vez, o volume da tristeza
e do pânico recobrado
a golpes de vida desconhecida
à luz do mar
o leito das pedras onde corre a primavera
de regresso
ao veneno
que de esperança infecta

o olhar apodrece a liberdade
a primavera de regresso
à chuva às raizes às fezes
a cascata das canções
da noite de noite
a primavera
de regresso à noite
o patamar ferido do horizonte
o pedal do sentido
o sentido da doença
a ausência
branca memória
ávida memória
o Tempo em vez de sangue
a memória a memória

tu oh dor onde se oculta a casa inteira
ensina-me a regressar de puro vento
sangue e pão
no bolso a camisa madura
de luz
esperança de palavras
nervos por palavras
sem dizer
meu nome sem reunir meus ossos a minha vida
comprada ao silêncio
corrompida
a música o alimento dos mármores
as marmóreas paisagens
a morte a esperança até ser noite...

forma ou fome crua flor
de frágil suor oh noite
dos sentidos
devassados
conta-me de um só nó
ininterrupta toda a voz toda a história
da matéria que cegou.


Fundo e exausto concluo aqui o inventário
aberto
da saudade
dúvida o trémulo fulgor
o relâmpago sumptuoso da cabeça que crepita
de saudade
e pura espumosa
pasmosa
ignorância:

..................................................................................

não há que procurar mais
perguntar mais
querer saber mais


[de hoje em diante vou viver só de poesia/
/Em poesia]

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