Hoje quero dizer-te apenas "amo-te"
com a parte mais escura e densa do teu nome
quero dar-te um lugar na sombra
da primavera outono que me cabe
e sabe
no verão ilimitado e tubular do meu silêncio
em silêncio
quero-te pálida e onda no hemiciclo da sombra
no anfiteatro da voz
no teatro destruído e só
de areia
nocturna;
no disseste
completamente nu que é em certas condições de luz e confiança
[ou mesmo amor]
o ar inteiro
quero-te no nome responsável do meu sol
completamente desarmado
que é
viver
quero-te na margem irrepetível e íngreme do meu próprio suor enrodilhado
na doença veloz outrora sangue que é o faz-se
sangrando sons e pó
de pé
na noite imaginária
quero-te na bruma do meu próprio assombro
quase ofendido de luz e
de esperança
quero-te nas águas revoltas do verso apagado
quero-te no tumulto vão das sombras rescendendo a óleo e a
definitivo.
quero-te na terra em estado de luz
e maio;
quero-te nas folhas de uma terra impossível e contida;
quero-te no pano transtornado
e fulminante da tarde devorada em surdina
e inchada de gente que entra e sai
da nudez baça e vaga
jovem e súbita
que hoje somos
tu e eu.
[uma juventude, sim, mas muitas vezes repetida
uma juventude sofrida em silêncio pelas árvores que nos cercam
de perfume amplíssimo e horizonte;
que nos assediam de movimento sombra
---e essa luz-ave que abre a boca à chuva exacta e nos vigia:
ramos de incerto um pouco como um sulco de sono
mas deserto e abandonado
fulgindo entre as copas das aves que no ar
morrem de vento e
luz!
belo incesto esse, digo apenas morto
de uma húmida felicidade que me limita em inúmeras flores
e um triunfo
---o incesto da luz com a erva circular
e da areia com seus frutos!]
quero-te da espuma de um vento que nos saiba ler
e ser
que nos reduza à alegria e nos devore como um fruto
apetecido e definitivo
que nos viole de poeira e alegria
que nos saiba a voz e continuamente nos renove
que nos ache belos e nos grite sempre,
no teatro diário e sábio da madrugada
a primeira primavera do dia
através da idade e da experiência;
que nos coma o peito sim mas devagar
e nos devolva a todo o tempo o riso
---e a liberdade de amanhecer sempre
com um beijo.
com a parte mais escura e densa do teu nome
quero dar-te um lugar na sombra
da primavera outono que me cabe
e sabe
no verão ilimitado e tubular do meu silêncio
em silêncio
quero-te pálida e onda no hemiciclo da sombra
no anfiteatro da voz
no teatro destruído e só
de areia
nocturna;
no disseste
completamente nu que é em certas condições de luz e confiança
[ou mesmo amor]
o ar inteiro
quero-te no nome responsável do meu sol
completamente desarmado
que é
viver
quero-te na margem irrepetível e íngreme do meu próprio suor enrodilhado
na doença veloz outrora sangue que é o faz-se
sangrando sons e pó
de pé
na noite imaginária
quero-te na bruma do meu próprio assombro
quase ofendido de luz e
de esperança
quero-te nas águas revoltas do verso apagado
quero-te no tumulto vão das sombras rescendendo a óleo e a
definitivo.
quero-te na terra em estado de luz
e maio;
quero-te nas folhas de uma terra impossível e contida;
quero-te no pano transtornado
e fulminante da tarde devorada em surdina
e inchada de gente que entra e sai
da nudez baça e vaga
jovem e súbita
que hoje somos
tu e eu.
[uma juventude, sim, mas muitas vezes repetida
uma juventude sofrida em silêncio pelas árvores que nos cercam
de perfume amplíssimo e horizonte;
que nos assediam de movimento sombra
---e essa luz-ave que abre a boca à chuva exacta e nos vigia:
ramos de incerto um pouco como um sulco de sono
mas deserto e abandonado
fulgindo entre as copas das aves que no ar
morrem de vento e
luz!
belo incesto esse, digo apenas morto
de uma húmida felicidade que me limita em inúmeras flores
e um triunfo
---o incesto da luz com a erva circular
e da areia com seus frutos!]
quero-te da espuma de um vento que nos saiba ler
e ser
que nos reduza à alegria e nos devore como um fruto
apetecido e definitivo
que nos viole de poeira e alegria
que nos saiba a voz e continuamente nos renove
que nos ache belos e nos grite sempre,
no teatro diário e sábio da madrugada
a primeira primavera do dia
através da idade e da experiência;
que nos coma o peito sim mas devagar
e nos devolva a todo o tempo o riso
---e a liberdade de amanhecer sempre
com um beijo.
Carlos Machado Acabado
[18.04.10]
Fabuloso poema. Eu sabia que além de professor o amigo só podia ser poeta.
ResponderEliminarAdorei o seu poema, sublime palavras de amor e carinho...
(...quero-te na espuma do vento que nos saiba ler e ser...)
Simplesmente magnifico. Espero voltar a encontrar muitos e muitos mais dos seus poemas.
Um beijo com cheiro a Alentejo numa manhã húmida de sol, Ava.
Amiga Ava:
ResponderEliminarMuito obrigado pelas suas palavras.
Também eu espero que aconteça o que diz: seria um óptimo sinal---e em mais de UM sentido...
Beijinho amigo!
Carlos
Que maravilhoso poema, Carlos ! Que forma tão bela e intensa de dizer o amor !
ResponderEliminarEspero, como a Ava, que continues a partilhar as tuas palavras poéticas! Fazem bem à alma de quem as lê !
Um beijo agradecido por este momento.
Um poema que nos preenche a alma e o universo!
ResponderEliminarUm beijinho profundamente sentido!
Eu acho que, com muita frequência, o grande---o verdadeiro mérito---dos poemas [ou das telas ou das melodias: de qualquer obra de Arte, boa ou má] está muito mais em quem estimula e induz, de um modo ou de outro, a sua criação através da impressão muito forte da sua própria presença e da sua própra existência, que leva os artistas a escrever ou a pintar ou a compor as suas obras [que leva os artistas a serem-no, afinal!] do que propriamente nestes últimos, que se limitam, assim, a ser o instrumento, em alguma medida, sempre mais ou menos dócil e até, em muitos casos, inerte; de algum modo... mediúnico, dos seus próprios afectos e sentimentos.
ResponderEliminarDo que de mais puro e verdadeiro existe neles, em qualquer caso...
Um beijinho à Ava, à Anna e à "Ezul" pela sua generosidade que me permite ter alguém com quem partilhar o imenso deslumbramento que foi, neste caso mais ainda do que em inúmeros outros, escrever o texto acima reproduzido.