sexta-feira, 25 de junho de 2010

"Um País À Belenenses..." [T.i.P.Text in progress]


José Sócrates e o tóxico socratismo cada vez mais isolado e agonizante que ele encabeça descobriram recentemente que "se fechar escolas com dez alunos «é bom» [?] deve, então, ser duplamente bom fechar as que têm, não dez, mas vinte..."

Admissivelmente, por esta lógica [que parece, aliás, tópica de um dos piores governos que o País já conheceu---e conheceu alguns bem mauzinhos ainda não há muito...] se lhe derem tempo há-de acabar fatalmente por descobrir as "maravilhas" de fechar as que têm trinta e [animado como está do "projecto" de criar um conjunto de instituições configurando, em termos globais, uma verdadeira comissão liquidatária da escola pública que passe convenientemente despercebida como tal---parecendo mesmo ser o contrário, isto é, um órgão repotenciador dessa figura "sagrada" da mitologia burguesa revolucionária e republicana moderna, apesar de tudo ainda em vigor entre nós, que é a escola pública]; animado como está, dizia, desse "projecto" profundamente anti-nacional ["anti-nacional", aliás, em mais de um sentido, por ser contra os interesses da nação e por ser contra a ideia de uma nação verdadeiramente integrada, integrante e, por conseguinte, orgânica] há-de, um dia finalmente gerar daquela escola pública a respectiva herdeira conceptual e institucional neo-liberal, uma escola inteiramente privada nascida por "fait acompli" que já se iniciou, de resto, sobretudo mas não só, na tal Empresa Parque Escolar de quem se esperam grandes realizações e "conquistas" para a "causa"...

Ora, esta ideia de fechar [como dizer?] "avençadamente" escolas pelo número de alunos; esta espécie de roleta ou de "rapa-deixa-tira-e-põe" tão hipócrita quanto falsamente pedagógico e didáctico espelha óbvia, espelha escandalosa mas espelha sobretudo perigosamente uma realidade, em si mesma [para quem está atento à do País] hoje-por-hoje já dificilmente escondível: a de que o actual poder político em exercício não tem do País e para o País uma única ideia que seja destinada a torná-lo operativo e, no limite, até, simplesmente, a médio prazo, possível enquanto tal, i.e., enquanto país.

Acossado por uma "crise" externa que nada fez, todavia, de compentente e de capaz para gerir no plano interno, limita-se a fechar "salas" da grande casa colectiva que devia ser o País à medida que os tectos de cada uma delas, por falta de dinheiro, de vontade e de saber para levar a cabo as necessárias obras, vão caindo ou simplesmentde ameaçando fazê-lo.

É a chamada "economia à Belenenses"...

O Belenenses é como se sabe um grande clube desportivo nacional, antigo campeão e popularíssima colectividade da zona ocidental da capital que, por razões que se prendem, sobretudo, com diversos reajustamentos e sobressaltos ocorridos na composição sociológica da sua base societária de apoio gerada, por sua vez, por profundas alterações de ordem económica [encerramento de fábricas, etc.] entrou a dado passo da sua História recente num processo de decadência contínua aparentemente sem fim.

Ora, confrontados com os primeiros estádios deste crise, que fizeram os dirigentes do Clube?

Em vez de provarem possuir uma visão de futuro que os levasse a investir em equipas competitivas que ganhassem e, assim, chamassem novos sócios e conquistassem novos públicos, resolveram o problema vendendo para outros clubes tudo o que fosse jogador de futebol com alguma qualidade.

O resultado foi o inevitável: o clube enfraqueceu ainda mais, não resolveu os problemas económicos e financeiros que o atormentavam com as receitas extraordinárias [leia-se: excepcionais, casuísticas] assim obtidas e, a breve trecho, descia de divisão e iniciava o penoso processo de desintegração que continua, de resto, a verficar-se ainda hoje.

Ora, quando Sócrates tenta "fazer face à crise" interna fechando escolas sem qualquer critério pedagógica e até social e sociologimente substantivo, demonstrável e credível; encerrando serviços de saúde que atiram populações inteiras para o litoral ou para os grandes centros urbanos ou não as deixam ocupar, de forma minimamente harmónica o espaço total do País, inviabilizando, em última análise, numa palavra, o respectivo interior; economizando nas prestações sociais [nas quais ele, com o seu apurado---e bem conhecido...--- sentido de humanidade, de solidariedade e de coesão social, não consegue ver mais do que despesas e não, no fundo, formas de ir repossiilitando continuamente o próprio mercado, algo que ele agrava, de resto, extraordinariamente com uma política fiscal absolutamente "de merceeiro" ou "de sopeira da província"]; quando, dizia, Sócrates faz isto para "enfrentar a crise" o que está, na realidade a fazer é a comportar-se, com as consequências que, no fundo, todos, da Esquerda à direita antevêem sem grande dificuldade, como os tais dirigentes do Belenenses que criaram com a sua miopia gestionária e a sua ausência total de visão do futuro, as condições para que aquele que já foi um grande clube desportivo nacional ande hoje desoladoramente perdido nas divisões secundárias ou lutando desesperadamente para nelas não cair quando o destino quer ou permite que ele ocasionalmente suba.

Falando, porém, especificamente do encerramento anunciado de escolas [das tais com menos de vinte alunos que Sócrates e a sua improvável nova ministra da chamada educação acham que são pedagogicamente inviáveis e portanto indesejáveis---eles lá saberão---ou talvez não...---por quê...] e da ainda não-anunciada formação de uns chamados "super-agrupamentos escolares" que começam já a ser mais ou menos... discreta e informalmente falados: Sócrates não consegue manifestamente entender uma coisa que toda a gente menos ele, no entanto, melhor ou pior, já percebeu, i.e. que escolas no interior do País significariam [ou poderiam se responsável e inteligentemente distribuídas e apoiadas] a fixação de polos de redifusão estável e consistente do Conhecimento aí e um modo de começar a fazer reverter o processo de desertificação em curso, conferindo à ideia de desenvolvimento uma amplitude efectivamente nacional e idealmente orgânica.

Mas claro que isso implicaria [lá está!] possuir um plano, uma ideia global sustentável de País ao serviço da implementação da qual se encontrasse a rede escolar assim entendida e constituída.

Só se compreende, com efeito, a descentralização administrativa e pedagógica [tão reclamada em geral sem que na base da reivindicação em causa estivesse muitas vezes uma ideia que a tornasse útil e verdadeiramente necessária, instrumental]; mas, dizia eu, só se compreende a descentralização administrativa, pedagógica, curricular e até especificamente didáctica se houver a montante descentralização estratégica e, nunca será demais insistir neste ponto, uma ideia de País, negociada ou "socialmente contratada" com a generalidade da sociedade portuguesa.

É claro que não é fácil negociar o poder e o desenvolvimento quando há diversos interesses partidários distintos [e até concorrentes e abertamente conflituantes] instalados no poder---central e regional.

Numa partidocracia como aquela em que se converteu Portugal de Novembro de '75 para cá esta situação de policentralidade tensional permanente do poder não gera naturalmente coesão e equilíbrios, formas dinâmicas e verdadeiramente orgânicas e sustentáveis de desenvolvimento.

Os poderes usam-na, à partidocracia, para guerrearem entre si: o poder central, sobretudo, bloqueia estratégica e selectivamente certas áreas de potencial desenvolvimento em municípios "rivais", a fim de potenciar os "seus" e reforçar o seu próprio poder alimentando uma cadeia de poder que se converteu já há muito no único objectivo de si própria.

Poderia multiplicar os exemplos.

Mas o segredo para acabar com o "regime partidocrático" não está na eliminação dos partidos e consequentemente em mais centralismo, como advogam os saudosistas em geral e os de um "salazarismo" camponónio e bronco que é, antes de tudo o mais, um puro [ou impuro...] mito , em particular; on segredo está no único lugar onde pode estar que é na sociedade civil, i.e. na formação de uma opinião pública, central e local, esclarecida, vigilante e, sobretudo, interveniente e na exigência por parte desta da criação de dispositivos solidamente institucionalizados através dos quais se operem essa vigilância e esse controlo, em tempo tão real quanto possível, procedendo à ideal refusão dos "tempos" ou do que chamo as "temporalidades funcionantes nucleares" da democracia, como defendo noutro lado.

Um poder político que tivesse uma ideia de País e não fosse um mero arrendatário de um "europeísmo-indústria" [há hoje, é preciso que todos o percebamos, de uma vez por todas, como indivíduos e como sociedade, uma "indústria da europeicidade" confundida comum e sempre muito perversamente com 'Europa'---uma representação sobretudo económico-financeira, ancilar e funcionalmente política, que repete os erros das realizações neo-liberais nacionais, sejam elas "socialistas" ou "social-democratas"] re

Sem comentários:

Enviar um comentário