Eu estou em falta para com a Maria Estela Guedes.
Eu estou, de resto, em falta para com muita gente mas isso agora não vem ao caso.
É da minhha falta para com a Maria Estela que eu queria aqui falar: a verdade é que eu escrevi, no "Quisto", um pequeno texto sobre ela que a preguiça, porém, não me deixou rever pelo que, quando a Estela mo pediu para o seu inestimável Triplov...
Adivinharam!
Passaram-se os dias e de revisão... nada!
Claro quem, de prometido envio, tão pouco.
Claro quem, de prometido envio, tão pouco.
É, todavia, uma enorme injustiça porque o libreto d' "A Boba" [é dele que falo] da Maria Estela é, de facto, particularmente estimulante, envolvente, textualmente riquíssimo, meticulosamente elaborado na sua aparente imediata 'transparência' ou 'clara translucidez textual'.
É um "teatro da palavra", disse-me ela um dia---e é.
Mas também o é do Pensamento [nada "daquilo" é gratuito ou cultu(r)al e até politicamente descuidado ou arbitrário] e da Cultura: há, com efeito, "ali" de "portuguêsmente [quase] tudo"---de Gil Vicente e Ribeiro Chiado à lição teatral de um Brecht.
Há Agustina, Camões e Bocage, dizem.
Há, sobretudo uma síntese textualmente fulgurante e implacável de várias linhas sémicas que compõem [e descompõem? Des-compõem?] o mito, ligadas entre si numa excitante e provocária, originalíssima, 'disposição dialectizante' que as anima continuamente e impele a revelarem-se---mais, talvez, até, do que aquilo que elas próprias e uma certa historiografia [demasiado] oficial gostariam...
Há isso e há ressonâncias chaplinescas e de operáticas de Leoncavallo e até [eu assim penso...] verdianas: do trágico "Rigoletto", desde logo.
Rigoletto contido por Gil Vicente e pensado por Brecht, podia ser uma chave para ler esta pícar' "A Boba" que está, agora, de viagem.
Vai a Lamego: se de lá me lerem, aceitem uma sugestão: não percam "A Boba".
Informem-se: ela vai passar por lá, um dia destes!
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